(Instituto Tomie Ohtake, São Paulo) – Com as mesmas qualidades de resistência e maleabilidade dos bambuais, a arte de Tomie Ohtake completa 50 anos em 2002. Mas a comemoração chega antes, com a inauguração do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e com uma retrospectiva da artista apresentando 100 pinturas, 30 gravuras, três esculturas e uma instalação. Desde a breve passagem pela figuração, em 1952, até a tela abstrata de dez metros de comprimento, pintada em 2001, a mostra percorre o vasto repertório de formas de Tomie. Seja nos geométricos orgânicos dos anos 60, seja nos arcos e nas curvas sensuais das décadas de 70 e 80, o trajeto mostra uma arte de forte inspiração nas forças da natureza. Entre os últimos trabalhos, destaca-se uma instalação interativa, composta de 12 aros irregulares esculpidos em metal. Tocados pelo público, iniciam uma sinfonia de movimentos que remetem a ondas suavemente sopradas pelo vento. (P.A.)
Não perca

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Teatro
Sermão da sexagésima

(Teatro da Praça, São Paulo) – O novo espaço cultural no bairro de Pinheiros, zona oeste da capital, ainda funciona na base do improviso. Artisticamente, porém, mostra uma estréia promissora. Com uma carreira restrita ao teatro e atado a um repertório de obras eruditas, o ator paulista Ayrton Salvanini faz uma apresentação empolgante de um dos textos mais conhecidos, e densos, do padre Antônio Vieira (1608-1697). Trata-se de uma potente alegoria de 50 minutos de duração sobre a arte de se comunicar bem. Mas, acima de tudo, é um exemplo inexorável da força da palavra e uma lição aos pregadores eletrônicos de hoje em dia, que precisam recorrer a acrobacias aeróbicas para seduzir seus seguidores. (C.F.)
Vale a pena

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Livros

Memórias perdidas

 

(Jorge Zahar Editor, 120 págs., R$ 17) – Encontrado no final dos anos 90, o manuscrito de Chet Baker – que ganhou prefácio de Carol Baker, mãe de três de seus filhos – descreve o período que vai do final dos anos 40 ao início dos 60, quando o trumpetista americano era visto como anjo e diabo. Belíssimo, Baker flanava entre Europa e Estados Unidos, cercado de carros possantes, mulheres desejáveis, quantidades incríveis de drogas e gravando discos com destino a se tornarem clássicos do jazz. Um dos expoentes do cool jazz, ele se tornou cult cantando standards da música americana com uma voz que demonstrava solidão e, para muitos, indiferença. Este é o tom com que conta passagens de sua vida – prisões, amores, mortes por overdose, gravações, o nascimento dos filhos, shows e cenas notáveis sob qualquer ponto de vista, pelo menos para os seres humanos normais. É a primeira vez que a sua versão sobre seus “anos negros” vem à tona e de maneira tocante. Chet Baker morreu em 1988, em Amsterdã, com 58 anos, ao cair da sacada de um hotel. (L.C.)
Leia sem parar

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Cinema

 
O mar

(em cartaz em São Paulo) – Sem o humor anárquico que fez a fama de Luis Buñuel e, mais recentemente, de Pedro Almodóvar, o cinema espanhol quase sempre fica a meio passo do dramalhão mexicano. É o que acontece com este filme de Agusti Villaronga sobre três crianças responsáveis pela morte de uma outra durante a Guerra Civil Espanhola. Marcados pelo episódio traumático, eles se reencontram uma década depois num sanatório para tuberculosos, fazendo eclodir os sentimentos reprimidos do passado. Culpa, religiosidade e homossexualismo doentio se alternam numa tragédia sanguinolenta, que a mão pesada de Villaronga transforma num folhetim de extremo mau gosto. (I.C.)
Fuja