13/12/2001 - 10:00
Será um ano de muitos desafios para o novo presidente da Petrobras, Francisco Gros. Ao assumir o cargo deixado por Henri Philippe Reichstul, Gros vai herdar uma empresa com um passivo difícil de zerar. A Petrobras é, ao mesmo tempo, um primor financeiro e uma tragédia ambiental. Nunca houve tanto desastre ecológico nas cinco décadas de história da estatal como na gestão Reichstul. O maior deles jogou 1,3 milhão de toneladas de óleo na Baía de Guanabara. Outro foi o afundamento de uma das maiores plataformas de petróleo do mundo, a P-36. Além da tentativa de mudar o nome para Petrobrax e mais os indicadores pouco louváveis de acidentes fatais com petroleiros. Até mesmo o lucro recorde de R$ 21,3 bilhões não é obra e graça de Reichstul. Ele foi ajudado, em muito, pelo preço do petróleo lá fora.
Demissionário há quatro meses, Reichstul deixa o cargo alegando pressões familiares e não problemas de saúde, apesar de ter retirado um nódulo benigno das glândulas tireóide recentemente. Ele fica no cargo até 21 de dezembro para fazer a transição para Gros. Sua gestão durou dois anos e oito meses. Gros assume defendendo a liberdade de atuação da empresa, caminho que, segundo ele, pode conduzi-la à condição de multinacional.
Passivo ambiental – Os desafios de Gros agora serão muitos. Ele terá de continuar a modernização iniciada pelo antecessor, será obrigado a neutralizar as pressões do ano eleitoral e, sobretudo, reduzir o passivo ambiental deixado por Reichstul. Amigos íntimos, no entanto, garantem que sua maior dificuldade será mesmo dobrar a resistência familiar, que não está gostando nada, nada do seu novo desafio profissional. Ser presidente da Petrobras em época de guerra no Oriente Médio e de desastres ambientais frequentes é de tirar o sossego de qualquer fim de semana em família.
A troca de comando acabou desencadeando indiretamente uma disputa política em torno de um dos maiores caixas do governo: o BNDES. Ganhou a corrida sucessória no BNDES Eleazar de Carvalho, diretor de produtos estruturados do banco, que assume o posto no mesmo dia em que Gros assume a Petrobras: 2 de janeiro. Carvalho é economista, tem 44 anos e entrou no BNDEs em abril do ano passado. Ele é filho do maestro Eleazar de Carvalho. Havia três candidatos na disputa pela presidência, dois deles representando versões de uma mesma linhagem política: o consultor Andrea Calabi, antecessor de Gros no banco, e a atual diretora da área social da instituição, Beatriz Azevedo, indicados pelo ministro da Saúde,
o presidenciável José Serra. Venceu a opção de Gros, homem do ministro Pedro Malan.