26/01/2005 - 10:00
Enclave: Comunidade bengalesa é vista por Monica como microcosmos
Para alguém que aos três anos de idade precisou escapar de seu país e refugiar-se com a mãe inglesa na Grã-Bretanha, a escritora paquistanesa Monica Ali tem matéria-prima de sobra para criar enredos cheios de aventuras. Ter crescido na Inglaterra, entretanto, dirigiu sua literatura para um caminho mais fleumático, e isso fica patente em Um lugar chamado Brick Lane (Rocco, 471 págs., R$ 52), sua obra de estréia. Brick Lane é um enclave bengalês na cidade de Londres, para onde a personagem principal, Nazneen, uma jovem tímida criada em uma cidade pequena de Bangladesh, é transplantada logo após o casamento arranjado com um homem mais velho e de aspirações intelectuais. Sem falar a língua local, Nazneen vê o tempo passar, os sonhos do marido se desmancharem e o orgulho do chefe da família ruir.
Ela não é feminista, mal sabe o que é isso, mas se vê obrigada a desafiar as tradições e os preconceitos em nome da sobrevivência. Ao seu redor, outras pessoas, outros imigrantes, vivem cada um seu drama particular, que é o de
todos. As cartas que recebe da irmã desgarrada na terra natal ajudam a consoli-
dar uma realidade nova e um mundo de oportunidades impensadas e impensáveis há pouco tempo. Ao mostrar estas vidas paralelas, Monica Ali escancara um microuniverso do qual o resto da cidade e do planeta procuram ignorar a existência. Por meio de Nazneen e da sua luta por uma vida melhor no mundo que lhe coube, ela grita em nome de toda uma comunidade que teve a presença permitida sem, entretanto, ter sido aceita jamais.