O publicitário Armando Strozenberg contou, em palestra, que quando a joalheria H.Stern foi indicada para receber uma homenagem da Associação Brasileira de Propaganda, em 2002, ele foi questionado porque o prêmio só poderia ser dado a uma pessoa física. “Mas o homenageado é Hans Stern”, explicou. E, perplexo, ouviu de um interlocutor: “Quer dizer que o H. Stern existe?” A história é uma das muitas que alimentam o mito Hans Stern, criador e dono da joalheria que é considerada uma das cinco mais importantes do mundo. Aos 84 anos, ele é um nome conhecido no mundo inteiro – sua grife tem 160 lojas próprias espalhadas em 12 países –, mas não é imagem pública. “Graças a Deus!”, diz com suspiro de alívio nesta entrevista a ISTOÉ. O “rei dos diamantes e gemas de cor”, como chancelou a revista Time, em 1964, é um ilustre anônimo. Para manter esse “privilégio”, ele não costuma conceder entrevistas e, quando isso acontece, proíbe fotografia. Hoje, uma foto de Hans Stern é quase tão rara quanto uma turmalina paraíba – aquela preciosidade cujo brilho parece de néon.

Mas o personagem em questão é uma pessoa extremamente simples. Sua aversão à mídia se deve ao desejo de manter a privacidade e, em segundo lugar, à preocupação com segurança. As aparições públicas são tão especiais que costumam causar susto. Foi o que aconteceu com seus funcionários – da sede, no Rio de Janeiro, e da filial de São Paulo –, há poucas semanas. Ao chegarem, encontraram Hans Stern na entrada de serviço cumprimentando um a um pelos 60 anos da grife. “Estou com a mão doendo até hoje…”, brinca. E explica o gesto: “É para prestigiar nossos colaboradores e deixar claro que o sucesso não é só de um, é nosso, de toda a equipe.” Logo depois, foi sua vez de surpreender-se: ganhou dos funcionários um par de abotoaduras de águas marinhas. “Foi a primeira vez que ganhei uma jóia”, garantiu.

Drogas – As comemorações das seis décadas incluíram campanha com a modelo Kate Moss, flagrada, recentemente, consumindo drogas. Em vez de seguir as outras empresas que cancelavam contratos com ela, a H.Stern foi a primeira grande grife a manter o acordo. O diretor presidente, Richard Barczinski, explica a atitude: “Achamos que isso era uma questão de ordem pessoal e que não nos cabia julgar.” Fato raro no histórico de uma grife acostumada a aparecer em peças usadas por estrelas internacionais em festas como a entrega do Oscar. Hans Stern nasceu cego, em Essen, na Alemanha. “Ainda sou, até hoje, cego de uma vista. A outra, eu recuperei a partir dos dois anos de idade”, explica. Veio para o Brasil com 17 anos, fugindo do nazismo. “Comecei a trabalhar como datilógrafo numa firma que lapidava e importava pedras e minerais. Depois, virei corretor: os garimpeiros me davam pedras para vender no Rio e em São Paulo”, lembra. Em 1945, quando abriu um pequeno escritório para exportação, as pedras brasileiras não tinham muito valor no mercado internacional. Encantado por elas, Hans passou a contestar a denominação de que eram menos preciosas: “Não existe pedra semipreciosa, assim como não existe mulher semigrávida ou pessoa semi-honesta”, repetiu à exaustão. Em 1971, o Gemological Institute of América (GIA) chegou à mesma conclusão e mudou essa nomenclatura.

Hans Stern chega à suntuosa sede da empresa diariamente às 8h30. No momento, está à frente de mais uma empreitada: “Estamos desenvolvendo um novo braço, que é a parceria com 50 joalheiros de renome, por atacado.” Dois de seus quatro filhos, Roberto e Ronaldo, trabalham na empresa. Avô de seis netos, Hans Stern diz como educou os filhos e, agora, procura colaborar na formação de valores dos novos descendentes: “Eu os ensino a ser modestos, a não ser pretensiosos, não usar o nome da família para obter vantagem, ser igual, democrático e compreensivo, principalmente com as pessoas mais pobres, mais modestas.”