Está cada vez mais distante uma imagem antiga de parte da sociedade sobre a ação dos chamados “ongueiros” (integrantes de organizações não-governamentais). Aquela idéia do ecologista meio hippie, por exemplo, perdeu espaço para profissionais qualificados e preparados, vistos hoje como empreendedores sociais. São eles o alvo das entidades de financiamento internacional e de grandes fundações doadoras. O resultado de uma Feira de Inovação Social realizada em Santiago, no Chile, nos dias 10 e 11, reforça essa visão ao premiar entidades da América Latina e do Caribe que criaram projetos de desenvolvimento humano, capazes de gerar renda e combater de maneira eficaz a pobreza e a desigualdade social.

Entre os cinco finalistas ficaram duas experiências bem-sucedidas do Brasil: a Ecoorgânica – Cooperativa dos Produtores Familiares Orgânicos, de Vitória de Santo Antão (PE), e o Projeto Saúde e Alegria, de Belterra (PA). O vencedor foi uma ONG do Haiti, Leche Agogô, que organiza pequenos produtores de leite para melhorar suas condições de produção e competitividade. O concurso foi organizado pelo Comitê Econômico para a América Latina e Caribe (Cepal), com apoio da Fundação Kellogg, e envolveu 1.600 entidades.
Projeto Saúde e Alegria      

A cooperativa Ecoorgânica chamou a atenção por inovações como a capacitação técnica oferecida a todos os familiares de produtores e pela participação de jovens no projeto. Hoje, reúne 124 famílias que têm uma produção semanal de quatro a cinco toneladas e um faturamento médio mensal de R$ 740. “E tem produtor que recebe até R$ 2,5 mil”, comemora o técnico em agropecuária Antonio Roberto Pereira, presidente da ONG, que tem apoio da Kellogg e do Instituto Ayrton Senna, entre outras instituições.

Já o Centro de Estudos de Promoção Social e Ambiental, que criou o Projeto
Saúde e Alegria, atua em 143 comunidades ribeirinhas dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro e atende 30 mil pessoas nas áreas de saúde, produção e manejo florestal, geração de renda, educação, arte e cultura. O Saúde e Alegria traz inovações como a “ambulancha”, um barco que percorre as comunidades para oferecer assistência e cuidados básicos de saúde e leva, simultaneamente, espetáculos de circo. Apenas 50% das crianças de zero a cinco anos recebiam vacinas nessa área e hoje o atendimento atinge 98%. Outros projetos brasileiros ficaram entre os 20 finalistas, entre eles os da Rede Saci (SP) e da Associação de Pequenos Agricultores de Valente (BA).