Trabalhar em silêncio num Estado onde é impossível evitar o barulho. A fórmula, marcada aparentemente por uma contradição, produz resultado para Geraldo Alckmin (PSDB) desde março de 2001, quando ele assumiu os 22 meses finais do mandato de Mário Covas, depois da morte do tucano histórico. Paulista de Pindamonhangaba, 53 anos, ex-vereador e ex-prefeito de sua cidade natal, ex-deputado estadual e federal, o sempre tranqüilo Alckmin, anestesiologista por um sintoma de ironia do destino, já teve a educação e a paciência maldosamente comparadas por Paulo Maluf ao sabor certamente sem grandes marcas de um picolé de chuchu. Mas, hoje, ele saboreia os frutos do acerto de boa parte de suas apostas e da boa aceitação do estilo suave pelos paulistas. Dirige numa pista livre. É o governador com os melhores índices de aprovação na rodada de pesquisas realizada pelo instituto Databrain para ISTOÉ. Para as eleições de 2006, deseja ampliar a octanagem dessa gasolina popular e estacionar seu carro na garagem do Palácio do Planalto. No estacionamento, deseja a vaga do presidente Lula.

Ao contrário do perfil suave do governador, a aprovação popular de sua administração e de sua atuação pessoal é traduzida em números nada discretos: 83% dos 2.122 entrevistados aprovam seus métodos de governo e 80,2% o seu comportamento. Os méritos de Alckmin deram-lhe vida própria e fortaleceram as asas naturalmente recolhidas pela força e brilhantismo de seu antecessor. O mais importante desses méritos foi a consolidação de um projeto para equilibrar as finanças do Estado. O desastre chegou ao ápice em 1993, com um déficit de 25,6% da receita, mas Covas saneou as contas.

São Paulo trabalha com pequenos superávits anuais desde 1998. Alckmin reforçou essa política com leilões, pregões e bolsas eletrônicas, via internet, para definir as compras do governo (economia de US$ 3,5 bilhões desde 2001) e um ajuste radical nos gastos com a máquina (comprometimento de 51,9% da receita líquida com despesas de pessoal, abaixo dos 60% permitidos por lei). A soma de rigor e economia gerou recursos para financiar projetos importantes. Alguns deles: a construção de mais de dez hospitais (entre eles o elogiado Mário Covas, em Santo André), a inauguração do campus da USP Zona Leste (região carente da capital com quatro milhões de habitantes) e a recuperação de 3,5 mil quilômetros de rodovias estaduais. Uma parceria com a empresa concessionária permitiu a duplicação da rodovia dos Imigrantes, que liga a capital à Baixada Santista. O Rodoanel, círculo viário projetado para unir as estradas que partem ou saem da capital, uma das mais importantes obras viárias do País, tem prontos 32 quilômetros do trecho oeste (R$ 1,2 bilhão) e prometidos para 2008 os 61,4 quilômetros do trecho sul (R$ 2,1 bilhões, dois terços do governo paulista e um terço da União). O problema crônico das enchentes na região metropolitana da capital do Estado foi atacado com a ampliação da calha do rio Tietê, aprofundada em 2,5 metros e ampliada, na largura, de 26 para 45 metros (R$ 1,077 bilhão). Alckmin não tem pressa. Ou, se tem, convence o mundo do contrário como um mestre zen-budista – sempre com muita calma.