Quem pode, pode. Quem não pode, se sacode quando a banda passa. Este trecho da música A galera, do novo CD de Ivete Sangalo, As super novas (Universal Music), é um verdadeiro axioma da cantora que mais fatura no Brasil. Ivete pode. E sua banda passa arrastando quarteirões. Aos 33 anos, ela é uma espécie de Midas, o rei que transformava em ouro tudo o que tocava. Seu DVD MTV ao vivo, lançado no ano passado, foi o DVD da Universal mais vendido em todo o mundo, batendo as 500 mil cópias. E As super novas, que já está na boca do povo com Abalou, entra no mercado com uma inédita marca de CDs previamente vendidos: 650 mil cópias. Desse total, 500 mil foram comprados pela Avon e o restante, distribuído em lojas. Ela é uma das artistas mais assediadas para comerciais, e faz vários. Sua imagem anuncia o analgésico Sonridor Caf, a tintura de cabelo Garnier, a cerveja Nova Schin (que teria pago R$ 9 milhões para tê-la como garota-propaganda) e a Grendene, que aumentou o faturamento das vendas no segmento de sandálias assinadas por Ivete e Adriane Galisteu em 20%, entre outros. A agenda profissional não tem espaço para nenhum novo compromisso até abril de 2006 e ela luta para não aumentar sua cota de 12 shows por mês, além de eventos como Carnaval fora de época, micaretas e convenções. Seu cachê não é revelado, mas Ivete não sobe em palcos por menos de R$ 200 mil. Comumente, ela faz acordo com o produtor: metade da bilheteria para cada um, o que pode significar R$ 300 mil em seu bolso. Sem falar no produto principal, os discos, que somam seis milhões e 500 mil unidades vendidas, computados os que fez com a Banda Eva.

Ivete recebeu ISTOÉ em sua produtora, a Caco de Telha, em Salvador, de bermuda branca, blusa de malha verde e sandália do tipo rasteira. Sem maquiagem, é tão bonita como quando está produzida. A rainha do axé chega a ser humilde no ambiente de trabalho: agradece alegremente quando o garçom deposita um prato de frutas na mesa. É afetiva com todos, entra nas brincadeiras e não há sinal que evidencie a superpoderosa do show business. Aliás, ela não gosta do tema. “Se você puder não falar dessa parte (grana, patrimônio), eu agradeço muito”, diz, com sotaque baiano e bonita voz de contralto. Mas não é possível atendê-la. Como dimensionar o espetacular mercado que ela criou sem falar de números? “As pessoas vão pensar que eu estou nadando em dinheiro, o que não é verdade. É que a gente trabalha muito. O dinheiro que eu ganho equivale ao volume de trabalho que eu tenho”, argumenta. Atenta às dicas de economistas, ela costuma diversificar seus empreendimentos. “Invisto em muita coisa, mas não é essa sangria desatada. E eu não sou uma pessoa consumista. O dinheiro viabiliza meu conforto e minha tranqüilidade”, diz.

Jatinho – Neste contexto, está a compra do avião Cessna Citation I, no qual ela cruza os céus e pousa nos mais variados palcos do País. “Tem fim de semana que a gente viaja seis mil quilômetros. Ele é confortável e necessário para o meu trabalho”, explica. Um avião desse porte, com capacidade para quase dez pessoas, novo, custa alguns milhões de dólares. O de Ivete, entretanto, foi comprado de segunda mão e, pelo que consta, chegou perto de US$ 1 milhão. Esse assunto realmente não a atrai. “Olha as minhas riquezas ali”, diz, apontando para pencas de fotos de suas sobrinhas e mudando de assunto.

A família é muito importante para ela, e muitos parentes trabalham em sua produtora. Dos quatro irmãos – o quinto, Marcos, morreu em 1989 num acidente de carro –, três trabalham na produtora: Jesus, empresário; Cynthia, produtora; e Ricardo, economista. Mônica, que é artista plástica, advogada e cantora, é a única que não dá expediente na Caco, mas o marido dela, Paulo, sim. “Ele controla meu saldo”, comenta Ivete sobre a função financeira do cunhado. A irmã Cynthia brinca: “Que legal, hein, Bete! Quanta coisa linda, né?” O apelido Bete descende de outro, Vete. “Como a gente é muito simples, não tem essa dimensão de estrela. Ela é a caçula e nós sempre cuidamos dela. Agora inverteu, ela cuida de todo mundo”, completa. Há, também, primos em quase todas as áreas da empresa, que soma mais de 100 funcionários, entre a sede e a filial, em São Paulo. Sem incluir os terceirizados para eventos especiais, como o Carnaval, época em que contrata mais seguranças e outros profissionais, como médicos para resolver as emergências nos próprios blocos.

 

Grammy – Ivete não parece ter se dado conta de que é uma empresa. “Eu tenho uma visão empresarial, mas é fruto do aprendizado, principalmente com meu irmão Jesus. O que eu tenho muito mais forte é a visão artística. Jamais arriscaria me jogar sozinha numa parada de negócios”, explica. Sua matemática é simples: “Um artista precisa de um bom empresário e vice-versa porque uma boa performance leva a bons contratos, que levam a bons lucros para todos.” Ela acaba de ganhar algo que alardeia como extremamente caro: o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Regional pelo CD MTV ao vivo. “Isso é a valorização do meu trabalho. É lisonjeiro, muito estimulante e é chique, né? Eu não sei o que é mais gostoso: se é se mostrar porque ganhou o prêmio ou o Grammy. Eu prefiro me mostrar”, brinca, feliz com o reconhecimento do que diz ser a música baiana. Se é difícil para os outros definir o ritmo de Ivete, para ela não há mistério: “Podem me botar na prateleira de axé music. É o que eu quero. Só que eu defino axé como tudo aquilo que eu gosto. Eu poderia fazer um disco de rock, de bossa nova. Só que eu não quero.” A premiação afina direitinho com os planos da cantora para o mercado internacional. Depois de arrebatar platéias e contabilizar boa vendagem de discos em países como Alemanha, Itália, Suécia, Espanha e Portugal, ela fareja que a hora é esta. “Agora, acho que uma carreira internacional de sucesso é viável. Não apenas para suprir a saudade dos brasileiros que moram fora, mas porque vejo potencial entre os próprios estrangeiros.” Seu último show em Lisboa, este mês, reuniu 40 mil pessoas e os ingressos se esgotaram com um mês de antecedência.

Sua gravadora, a Universal Music, também dança conforme a música. “A partir do próximo ano, ela é nossa prioridade máxima de lançamento nos países latinos”, afirma Max Pierre, vice-presidente artístico da Universal. “Nas convenções da gravadora, ela assusta todo mundo pela exuberância musical e beleza. Em fevereiro, vamos receber o presidente da Universal francesa, Pascal Nègre, e da Universal latina, Jesus Lopez, com um show dela. Pascal já estava muito impressionado com ela, imagina quando conhecê-la pessoalmente…”, elocubra.

Espanhol – Para ampliar o potencial do que já é sucesso, os planos é que ela grave em espanhol. “Ivete recebe muito bem a idéia. A companhia acha que em espanhol ela terá força maior. O importante é não mexer na essência dela.” Pierre analisa que um dos grandes empecilhos para vôos mais ousados fora do Brasil é, justamente, o Brasil: “Quanto mais sucesso ela faz aqui, mais presa vai ficar. Os cachês já estão ficando bem próximos das estrelas internacionais e os shows em casas de espetáculo, para ela, ficaram pequenos. Mas quando se tenta fazer uma agenda para o Exterior fica complicado porque está amarrada em eventos.” Segundo ele, a gravadora vai colocar mais “uns 50 ou 100 mil CDs” do novo trabalho nas lojas até o Natal, na cola da participação da cantora como apresentadora dos especiais de fim de ano da Rede Globo.

Ivete Sangalo na tela da Globo não é novidade – ela já ganhou quatro troféus do Domingão do Faustão, fez participação especial na minissérie Brava gente, apresentou um programa de Luciano Huck e substituiu Xuxa durante a licença-maternidade. Agora, porém, vai comandar quatro programas que vão ao ar aos domingos entre 18 de dezembro e 8 de janeiro, nos quais ela receberá convidados. “Eu interpreto uma personagem, a Inete, que é irmã da Ivete, e gosta de pegar no pé dela. Abro e fecho o programa cantando”, explica. Sobre a especulação de que estaria ganhando R$ 300 mil por programa, ela dá uma gargalhada. “Mentira! Quando eu soube disso, falei para o Marcos Paulo (diretor): ‘Eu quero meu dinheiro!’ É impossível que se ganhe isso num programa como esse. Sou convidada, não poderia cobrar para fazer uma coisa que vai me prestigiar.” Já o show que fará no cruzeiro MicaMistra, da CVC, será cobrado. Ela não revela quanto, como sempre, mas, se o contrato seguir a tradicional participação nas vendas, o cofrinho vai encher. Os preços da viagem, que começa dia 8 de janeiro e passa por cidades de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, são a partir de US$ 850. Ivete Maria Dias de Sangalo é natural de Juazeiro, Bahia. Católica, diz que sua força está em Deus, e procura viver dentro dos melhores ensinamentos religiosos: atua em projetos solidários, como o do Hospital do Câncer de Barreto, em Salvador, do qual é “voluntária vitalícia” para angariar recursos. Atualmente, está promovendo a venda de camisas e CDs em benefício do HC. E é generosa com seus fãs. Também em janeiro ela fará o lançamento do novo CD com um show gratuito em Salvador para 100 mil pessoas. E vai rolar a festa.