A proximidade do fim de ano, com os recordes de insensatez registrados em 2001, traz também a expectativa de algum alívio. Tomara que os tais sentimentos de esperança, normalmente instalados no rito de passagem de um ano para o outro, substituam os incômodos da perplexidade e da indignação que atravessaram 2001. A destruição das torres de Nova York; o absurdo crescimento de sequestros no Brasil, especialmente em São Paulo; a convivência cada vez mais normal com o desemprego em massa e a cruel promiscuidade com a miséria das esquinas e viadutos das grandes cidades brasileiras; a configuração de uma recessão mundial e a inacreditável deterioração econômica da Argentina foram o potente combustível para a amarga sensação de desconforto e vulnerabilidade experimentada.

Mais um exemplo de insensatez é trazido às páginas de ISTOÉ pelos editores Mário Simas Filho e João Primo. A dupla de repórteres foi ao Suriname, vizinho país do norte, alertada por denúncias de trabalho escravo de brasileiros. Lá encontraram 40 mil brasileiros, garimpeiros e seus familiares, que entraram como imigrantes legais e de repente se tornaram ilegais por uma estranha mudança das leis locais de imigração. Para chegar à região do garimpo, os repórteres, preparados para muita emoção, valeram-se de um motorista do lugar e de um carro com tração nas quatro rodas, apropriado para enfrentar os quase 300 quilômetros de pirambeiras que separam Paramaribo, a capital, de Langa Tabiki, a região do garimpo onde trabalham os brasileiros. Se o carro era apropriado, o mesmo não se pode dizer do simpático Shyrcie Slance, o dublê de intérprete e motorista que está na foto ao alto com Simas e João. Mais intérprete que motorista, Slance, que domina o português, o holandês e o taki taki, um dialeto nativo, perdeu-se com nossos repórteres nas selvas do Suriname. Depois de muita discussão, acabou prevalecendo a rota determinada pelos repórteres, auxiliados pelo precioso GPS de João Primo, um dispositivo localizador, conectado a satélites.

Também para esta edição, Apoenan Rodrigues, editor de Artes & Espetáculos, escreve sobre o novo disco de Roberto Carlos. Acima do bem e do mal, o cantor e compositor causou profunda impressão em Apoenan, para quem o novo disco é seu melhor trabalho em 20 anos. Apropriado para os tempos atribulados em que vivemos, o trecho da antológica canção Emoções, composta em 1981, é citado no brilhante texto de Apoenan: “Em paz com a vida e o que ela me traz, na fé que me faz otimista demais, se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi.”