23/11/2005 - 10:00
Celular desligado. Lápis e caneta sobre a mesa. Provas fechadas e viradas para baixo. Para os 170.495 estudantes inscritos na Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), o momento mais angustiante do ano começará às 13h do domingo 27. Quando o ponteiro dos minutos apontar para cima, os vestibulandos terão de optar entre cinco alternativas:
a) rezar;
b) chorar;
c) arrancar os cabelos;
d) chutar as respostas;
e) respirar fundo e responder calmamente
às questões, começando pelas mais fáceis.
Não precisa ser professor de cursinho para saber que a alternativa “e” é a mais razoável. No entanto, nem todos conseguem manter a cabeça no lugar quando a pressão da sociedade, dos pais, dos professores e, principalmente, de si mesmos são tão severas. Isso não acontece apenas na prova da Fuvest, mas ao longo de três meses de exames, dispostos em rede como uma espécie de corredor polonês. Afinal, provas acontecem neste domingo 20 na Unicamp, na ESPM e na UFBA e seguem até a metade de dezembro nas faculdades mais disputadas do País: Unesp, Uerj, PUC do Rio e de São Paulo, FGV, ITA, Mackenzie, Unifesp e nas federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e outras. A partir de 7 de janeiro, a luta continua na UnB, na UFRGS, na Federal de Sergipe e em uma porção de exames de segunda fase.
Se houvesse mais vagas no ensino superior, especialmente nas universidades públicas, os ânimos seriam outros e, provavelmente, não seriam tão intensos os efeitos da TPV, a famigerada Tensão Pré-Vestibular. Para Roberto Costa, coordenador do vestibular da Fuvest, esse nervosismo é herança do rígido gargalo que separa os estudantes do ensino médio dos bancos da universidade pública. “Só no Estado de São Paulo, 500 mil alunos terminam o colégio por ano e disputam entre si as cerca de 25 mil vagas em faculdades gratuitas do Estado. Como muitos candidatos fazem vestibular pelo segundo ou terceiro ano, a relação candidato por vaga é altíssima”, diz. No País todo, a situação é semelhante. Segundo dados do último censo educacional feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), dos 1.851.834 alunos que concluíram o ensino médio em 2003, 1.540.431 ingressaram no ensino superior. Apenas 321.689, ou um em cada cinco, em universidades gratuitas.
Ar condicionado – O desafio dos vestibulares, segundo Roberto Costa, é selecionar os candidatos de maneira decente e honesta, sem prejudicá-los. Acuados, no entanto, os alunos encontram em tudo sinais de injustiça. “Quinze anos atrás, era alto o número de vestibulandos que chegavam atrasados e esbravejavam no portão dezenas de justificativas para o atraso. Com o tempo, eles aprenderam a não brincar com o horário e a sair de casa com antecedência”, diz. Há quatro anos, a Fuvest vem realizando palestras nos colégios para explicar o procedimento das provas e os quesitos buscados nos calouros. A meta é não dar margem a especulações, mas nem sempre isso acontece. “Mãe é sempre um personagem curioso. Uma vez, uma senhora veio reclamar que seu filho havia sido injustiçado porque o amigo fez a prova em uma sala de aula com ar condicionado e o filho dela não”, lembra Costa.
Para entrar na lista dos bem-sucedidos, com ou sem ar condicionado, vale fazer promessa a São Judas – o santo das causas impossíveis –, acender vela para o anjo da guarda, escrever 500 vezes no quadro negro a frase “Vou passar”, sentar-se em posição de lótus repetindo o mantra “Essa resposta eu sei”, bater com o pé direito no chão três vezes assim que levantar no dia do exame e até amarrar caderno com cipó de buriti colhido na Sexta-Feira da Paixão. Não satisfeita com as simpatias acima e impossibilitada de divulgar os gabaritos, ISTOÉ entrevistou sete estudantes que se deram bem nos últimos quatro anos e colheu dicas realmente úteis para serem colocadas em prática na hora H.