12/11/2003 - 10:00
Na democracia algumas decisões são simbólicas. A Constituição diz que todos – independentemente de raça, sexo, religião, dinheiro – são iguais perante a lei. Não é bem assim que se sente o cidadão pobre e negro diante do gigantismo do Estado e da opressão política de uma elite que há 503 anos reproduz uma relação autoritária com a plebe. Há um entendimento geral, em todas as camadas sociais, de que no Brasil alguns são mais iguais que outros. Essa máxima é quebrada raras e bem-vindas vezes. O povo brasileiro, infelizmente, se cansou de ouvir falar em desvios, roubos, sonegações, maracutaias de milhões, bilhões de dólares. Grana difícil até de imaginar.
Entra governo, sai governo e o nível de corrupção em quase todas as esferas é tão grande que atrapalha e muito o desenvolvimento do País. Ninguém aguenta mais. Por isso, a decisão do juiz Lafredo Lisboa, de mandar encanar os 22 corruptos do propinoduto do Rio de Janeiro, merece ser comemorada com pompa e circunstância. Deveria ter até carnaval fora de época como se faz nas copas do mundo. Silveirinha e sua gangue vão cumprir penas de até 17 anos e meio de cadeia. Como são gente fina, devem ter o tratamento da lei e não as condições subumanas da grande maioria dos presídios. “Apenas cumpri meu dever. A sentença foi dura para servir de exemplo”, explicou Lafredo, elogiando também a participação dos repórteres que ajudaram a desvendar o caso, denunciado por ISTOÉ em janeiro.
Como o Brasil tem memória curta, um novo caso já ocupa as páginas de denúncias. Agora envolvendo uma grande serpente que se espalhou pelo aparelho estatal. Um personagem já tem lugar garantido na galeria: o juiz Rocha Mattos. A Operação Anaconda se infiltrou no Poder Judiciário – o mesmo que produz Lafredos e Lalaus – e está descobrindo coisas de estarrecer. Que o final desse filme de terror também seja feliz para o cidadão que paga impostos e cumpre a lei.