Ao dar os primeiros passos fora das grades, após passar 53 dias na cadeia de Piquerobi (SP), as pernas da mulher mais conhecida do MST bambearam. “Quando vi Sofia, minha filha de dois anos, fiquei abobada. Foi como se eu não estivesse vendo nada”, disse Diolinda Alves de Souza, na manhã da quarta-feira 5. Ela foi libertada na segunda-feira 3, por um habeas-corpus concedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que anulou a decisão do juiz Átis de Oliveira, da Comarca de Teodoro Sampaio. Mais magra e abatida, Diolinda está com uma idéia
fixa: a de ver o marido, José Rainha Júnior, líder do movimento no Pontal do Paranapanema (SP), livre. “Minha liberdade não está completa. Falta um pedaço”, disse. Não foi a primeira vez que ela foi presa por causa
da militância política. Em 1996, passou 18 dias no Carandiru e, no
ano seguinte, 48 dias na cadeia de Álvares Machado, no interior
paulista. Enquanto conversava com a reportagem de ISTOÉ, não desgrudou da filha e quase chorou quando disse não descartar a possibilidade de voltar para a prisão.

ISTOÉ – Essa prisão foi diferente das outras?
Diolinda –
Foi. No Carandiru era desgastante, não só pelo fato de meu filho na época ter apenas dois anos e meio, mas também por tudo o
que o Carandiru representa. Em Álvares Machado tinha menos gente, mas era animado, conversávamos muito. Desta vez, não. E senti muito a falta da Sofia. Também foi diferente porque eu não esperava ser presa por causa de uma ocupação de 2000. Hoje, a questão está resolvida e a fazenda já é um assentamento.

ISTOÉ – Como era o dia-a-dia na cadeia?
Diolinda –
Cheguei a dividir com 15 mulheres a mesma cela. Só havia
seis colchões. Revezávamos para dormir e ficar em pé. Mas nada me agoniava tanto como a falta de Sofia. Fui presa quando estava lhe
dando o almoço. A imagem de deixá-la sozinha, pois o pai já estava preso, não sai de minha cabeça até hoje.

ISTOÉ – Você teve problemas com as outras presas?
Diolinda –
Não. Elas tinham curiosidade sobre o MST e conversávamos sobre isso. Também não tenho o que reclamar do delegado nem dos policiais.

ISTOÉ – Tem medo de ser presa novamente?
Diolinda –
Fui vítima de um juiz que julga por motivos pessoais.
Tenho receio desse juiz. Por isso, não descarto a possibilidade de
voltar para a prisão.

ISTOÉ – O que você pretende fazer para se livrar disso?
Diolinda –
Não sei. O jogo agora é diferente. Precisamos usar mais a inteligência. O que precisa mudar é o juiz, não as nossas metas.

ISTOÉ – Em 2001, você se desligou da direção do MST para se dedicar mais aos filhos. E agora, depois da prisão?
Diolinda –
Se antes pensava em deixar o Pontal, agora só aumentou minha vontade de ficar aqui.