O périplo africano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, percorrendo cinco países em sete dias e terminando no domingo 9, na África do Sul, proporcionou uma série de sucessos diplomáticos – cinco votos a favor do País como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU – e principalmente econômicos. Na primeira escala, São Tomé e Príncipe, a mais pobre das
ex-colônias portuguesas, Lula inaugurou a primeira embaixada brasileira e, de olho nas reservas de petróleo escondidas nos mares africanos, garantiu que a Petrobras vai ter uma presença mais efetiva, tanto em São Tomé quanto, principalmente, em Angola, ajudando os aliados a saírem do buraco e faturando os royalties do petróleo extraído.

Angola, segunda escala da excursão africana, recebeu mais atenções. Rica em petróleo e diamantes e carente de tudo o mais, a nação é considerada prioritária para o governo, que anunciou a disposição de estimular empresas nacionais a ajudar no esforço de reconstrução do país, arrasado por décadas de guerra civil. Lula, no auge das relações públicas, até bateu bola com uma sucursal angolana do Corinthians, seu time do coração. No setor da educação, Cristovam Buarque foi a vedete, ao anunciar o apoio do Brasil aos programas de alfabetização.

Em Moçambique, Lula contou com a colaboração do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que cantou e dançou com músicos e bailarinos africanos, levando o público ao delírio. O presidente também garantiu que bancará a construção de um laboratório, com tecnologia da Fiocruz, do Rio, para produção de remédios usados no combate à Aids – a promessa vai custar US$ 23 milhões. Nada menos que 15% da população está contaminada com o vírus. No campo dos negócios, ficou acertada a participação da Vale do Rio Doce em um megaprojeto na região da Beira, incluindo exploração de carvão e minério de ferro e exportação para a Ásia. Na Namíbia, rica em diamantes e que tem sua Marinha treinada no Brasil há anos, os investimentos devem ser no comércio e na infra-estrutura.

Na escala final, a África do Sul, os negócios e a política externa
chamam a atenção. Além de avançar na definição dos produtos que
terão tarifa zero, dentro do acordo em gestação entre o Mercosul e
a África do Sul, a comitiva colocou na bagagem um acordo para o
setor automotivo que poderá representar a saída para as montadoras
do Brasil. O mercado consumidor potencial para os carros brasileiros
é de oito milhões de pessoas, interessadas em carros pequenos e
médios. Como as montadoras locais fabricam carros maiores, a idéia é uma complementação das duas linhas de produção, com o Brasil importando carros de luxo dos sul-africanos.