Durante os 53 dias de sequestro, o gourmet Washington Olivetto comeu o pão que o diabo amassou. Além de ficar preso num minúsculo e sufocante cubículo, o publicitário foi obrigado a engolir verdadeiras gororobas. O menu do cativeiro era uma insossa mistura de saladas murchas, frangos insípidos e pedaços de carne sem graça. Uma heresia para alguém que virou nome de prato no Antiquarius, um dos melhores restaurantes portugueses do Brasil. Não foi por coincidência que Olivetto incluiu as fabulosas coxinhas de frango do Frangó, uma instituição paulistana em forma de boteco, entre os mimos que mais gostou de receber após o término do pesadelo. Quem mora fora de São Paulo deve estar perguntando o que este simples salgadinho fez para conquistar tão exigente paladar. Mil palavras não responderiam a pergunta. É comer para crer.

Mas qual é o segredo desse quitute que dá água na boca de gente como Olivetto, o deputado José Genoíno, o senador Eduardo Suplicy, o ex-ministro Delfim Netto e o botequeiro Jaguar? “As coxinhas são feitas na hora. Não tem essa de fritar e depois deixar na estufa”, diz Cássio Piccolo, 42 anos, filho de seu Valdecir, um descendente de italianos que há 15 anos colocou a Freguesia do Ó, bairro classe média baixa paulistano, no circuito etílico/gastronômico da cidade. Quem o vê falar tem a impressão de que se trata da coisa mais simples do mundo. Não é. O apuro começa na escolha dos ingredientes. A velha receita da dona Maria, a matriarca do clã, leva farinha de trigo especial, peito de frango de primeira e o catupiry mais conhecido do mercado. A fritura é feita com gordura vegetal, 50% mais cara e mais limpa que o óleo de soja.

Ao falar da coxinha do Frangó, na coletiva concedida dias após a sua libertação, Olivetto estimulou uma verdadeira procissão ao largo da Freguesia, onde está o boteco. No sábado 16, quem chegasse ao bar depois da nove da noite ouviria a seguinte frase dita com pesar pelos garçons “acabou a coxinha”. Naquele dia, 1.200 salgados foram devorados. Um recorde! Os novos fregueses vêm se juntar a uma
legião de fiéis frequentadores do bar, que, coincidentemente, fica ss atrás de uma bela igreja.