O paranaense Enrique Bernoldi, 23 anos, fez muito barulho no ano passado, em sua temporada de estréia na Fórmula 1. Entre uma largada e um estouro de motor, aconselhou Rubinho a “falar menos e andar mais” e manteve legalmente, por 35 voltas, a poderosa McLaren do escocês David Coulthard atrás de sua limitada Arrows equipada com motor Asiatech. No campeonato de 2002, que começa no domingo 3 com o Grande Prêmio da Austrália, em Melbourne, ele sonha em trocar o alarde pelos primeiros pontos na categoria. “Garanto que poderei chegar entre os seis primeiros em algumas corridas”, afirmou Bernoldi nesta entrevista a ISTOÉ, em Silverstone, na Inglaterra, após mais um dia de testes. Além de Bernoldi, a F-1 terá os brasileiros Rubinho Barrichello (Ferrari), Luciano Burti (piloto de testes da Ferrari), Felipe Massa (Sauber) e Antonio Pizzonia (piloto de testes da Williams).

ISTOÉ – O que você espera da temporada 2002?
Enrique Bernoldi –
O motor Cosworth do novo Arrows, o A23, me deixou muito otimista. Tornou o carro mais potente e confiável. Eu e o (alemão Heinz-Harald) Frentzen, meu companheiro de equipe, estamos próximos do acerto final. Tenho tudo para chegar entre os seis líderes em algumas corridas e marcar meus primeiros pontos nesta temporada.

ISTOÉ – No ano passado, você foi ameaçado pelo Ron Dennis, dono da McLaren, por ter segurado legalmente o escocês David Coulthard por 35 voltas, no GP de Mônaco. Ainda é incomodado por causa disso?
Bernoldi –
Hoje não há mais problema. Mas o Ron Dennis e o Norbert Haug, da Mercedes-Benz, jogaram pesado após a corrida. Ron Dennis disse: “Você sabe que temos condição de acabar com sua carreira se você não se comportar?” Respondi: “Corrida não é ‘passe por favor’, e sim ‘passe se conseguir’.” Aliás, achei engraçada a reportagem de ISTOÉ com o título “O dia em que Bernoldi viu Coulthard pelo retrovisor”. Foi exatamente isso. Eu olhava no retrovisor e ele lá, apavorado, jogando para um lado, jogando para o outro. Só passou depois que fui para os boxes.

ISTOÉ – De 1970 a 1994, o Brasil teve pelo menos um piloto de ponta. Com a morte de Senna, isso acabou. Como é iniciar uma carreira sem ter um ídolo de seu país como referência?
Bernoldi –
É duro. Nas décadas de 80 e 90, os brasileiros eram tidos pelos europeus como pilotos que se aprimoravam na base e venciam na F-1. Todo mundo queria um brasileiro, ainda que ele não fosse disciplinado e determinado. Depois da morte do Senna, passamos a ser vistos como os caras que ganham na F-Renault, na F-3, na F-3.000 e morrem na praia da F-1.

ISTOÉ – Barrichello afirmou que a Ferrari dá 70% de sua atenção para o Schumacher e 30% para ele. O que você achou da declaração?
Bernoldi –
Em tese, isso pode ocorrer, mas não vou opinar. Meus comentários sobre os brasileiros já causaram muita polêmica.

ISTOÉ – Quem é o seu melhor amigo na F-1?
Bernoldi –
O (colombiano Pablo) Montoya, da Williams. É ético e ótimo piloto. Em sua primeira temporada, no ano passado, venceu em Monza, na Itália, e deu aquele “passão” maravilhoso no (Michael) Schumacher em Interlagos. Esse entende do negócio. Vai dar trabalho.