Eis os planos de Albano Franco (PSDB) para o ano que começa: abrir uma fábrica de cerveja, passar longos quatro meses na Europa e descansar, descansar, descansar. Na seara política, por enquanto, o ex-governador de Sergipe quer apenas torcer para que o governo de Lula e do amigo José Alencar dê certo. No dia 1º de janeiro, o tucano deixou o cargo que exerceu por dois mandatos consecutivos e empossou o pefelista João Alves Filho. Foram oito anos de trabalho árduo. Suas gestões alavancaram o progresso do Estado e melhoraram sensivelmente a qualidade de vida dos sergipanos, fatos que nem seus adversários políticos contestam. Sergipe é hoje o melhor colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU na região nordestina. “Saio
feliz, mas não fiz tudo o que queria”, diz ele. Na quinta-feira 9, o ex-governador desembarcou em Paris. Ele está se despedindo, não se
sabe por quanto tempo, de sua vida pública, que já completou 25
anos. Que fique claro: Albano Franco, um dos principais líderes tucanos no Nordeste, não vai deixar o PSDB. “Quando voltar serei apenas empresário, mas sempre lutando pelo meu país”, garante.

Contando moedas – Ao longo de seus mandatos de deputado estadual, senador e governador, Albano diz ter sofrido algumas decepções, mas não entra em detalhes. “As alegrias são maiores”, explica. Certamente. Ele deixa a sede do governo, em Aracaju, orgulhoso. O principal motivo de tanta felicidade é o saneamento das dívidas. O ex-governador fez uma administração sempre alinhada à política de austeridade fiscal determinada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, seu correligionário, através da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em Sergipe, como em poucos Estados do Brasil, os gastos com o funcionalismo atingem 58% da receita líquida – a LRF determina que esta porcentagem não pode ultrapassar os 60%. Ainda assim, contando moedas, Albano operou milagres. O salário dos servidores está em dia e foram nomeados mais de 6,4 mil concursados no governo tucano. Os investimentos em obras e serviços também não estagnaram por causa da economia: chegaram à casa do
R$ 1,4 bilhão. “Meu maior orgulho é ter deixado o Estado enxuto. Quando assumi, em 1995, 84% da receita era para a folha de pagamento”, diz.

Os indicadores sociais do Estado hoje são muito diferentes de há oito anos. Neste período, o número de matrículas no ensino médio aumentou 200%. Segundo o ex-governador, de cada três sergipanos, um está
numa das 442 escolas da rede estadual. Por estas e outras, a taxa de analfabetismo caiu de 36% para 23,5%, de 1995 para cá. Os índices de evasão escolar no ensino fundamental diminuíram: de 28,4%, em 1995, passou para 18,7% em 2002. Albano também tem do que se orgulhar
na área da saúde. Durante a campanha presidencial deste ano, ele costumava dizer que seu companheiro tucano José Serra tinha em Sergipe um palanque seguro. Os índices do Estado são modelo para os vizinhos nordestinos. A política de saúde seguiu os moldes da que foi implementada por Serra no Ministério: municipalizar as funções. Deu certo. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde, menina dos olhos de Albano, cobre 94% da população sergipana. A mortalidade infantil
caiu de 58,4, em 1995, para 23 crianças por mil nascidas vivas, queda beneficiada também pelos R$ 280 milhões investidos em abastecimento
de água e esgoto sanitário. Outra de suas grandes obras na saúde foi
a ampliação do Hospital João Alves, em Aracaju, o maior do Estado.
O resultado destas ações levou a outro índice invejável: Sergipe
detém o melhor IDI (Índice de Desenvolvimento Infantil) do Nordeste.

Mas quando quer resumir a importância de sua administração, Albano cita, de pronto, duas realizações: “Levei 120 indústrias e gerei milhares de empregos.” A facilidade para atrair tantas fábricas veio do envolvimento natural que o ex-governador tem com o empresariado brasileiro, adquirido nos 14 anos em que presidiu a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A vida de empresário sindicalista cansou Albano. Ele gosta de dizer que recebeu uma dádiva: “Deus me ajudou a saber desencarnar. Quando saí da CNI, foi definitivo. Nunca
mais me envolvi.” Mesmo sabendo “desencarnar”, Albano confessa que, em relação à política, nada é definitivo. “Tudo é possível”, avisa. Depois de entregar o cargo, já reclamando do cansaço, ele ainda fez questão de circular entre os colegas na posse do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) na presidência da Petrobras, no Rio de Janeiro. “Tenho boa convivência com o PT de Sergipe e muito respeito pelo Zé Eduardo”, afirma. Dutra concorreu ao governo sergipano na última eleição e derrotou o candidato apoiado por Albano, Francisco Rollemberg (PTN), mas perdeu no segundo turno.
“Ele na Petrobras é algo muito importante para Sergipe”, diz, lembrando que o Estado não consome nem a metade do petróleo que produz. “Sempre digo que, se Sergipe fosse um país, seria da Opep, porque produzimos 50 mil barris e só consumimos 23 mil”, brinca, bem-humorado.

Bom humor, aliás, não tem faltado ao ex-governador, mesmo com saudades da terra natal. Em Paris, está descansando enquanto espera para participar de um curso, orientado pelo prestigiado professor Ignacy Sachs, que dirige o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. “Quero treinar o meu francês e aprender inglês, que sei muito pouco”, diz, animado. Na
volta, vai se engajar na fundação Augusto Franco, que leva o nome
de seu pai e, entre outras coisas, ajuda menores carentes através
de programas de capacitação profissional. “Vou profissionalizar e dinamizar a Fundação e agitar o meio cultural. É uma forma de imortalizar meu pai e ajudar a sociedade sergipana”, diz. Mas, pelos próximos
quatro meses, nada de grandes preocupações. Depois de uma longa passagem no governo, Albano Franco merece o descanso. Sergipe
é o menor Estado do Brasil, mas deve ter dado muito trabalho.