27/02/2002 - 10:00
Os oitos meses de racionamento de energia terminaram do jeito que começaram, com muita polêmica, e o consumidor sem saber em quem acreditar. Na disputa verbal travada nos últimos dias, o presidente Fernando Henrique chamou de “batatadas” os argumentos de que o País ainda poderá voltar a conviver com o fantasma do apagão e que estaria agindo com um olho no calendário eleitoral. “Aqueles que quiserem criticar, que critiquem à vontade, mas usem os dados com boa-fé”, disse o presidente. O governo argumenta que usa critérios técnicos ao encerrar o sistema de cotas e multas, decisão que levaria em conta a recuperação dos reservatórios. Especialistas no setor, no entanto, dizem que o governo não cumpriu sua parte, deixou de fazer os investimentos necessários para aumentar a oferta de energia e por isso o racionamento poderá voltar quando as chuvas terminarem.
O certo é que a crise energética custou um bom dinheiro para o País. De acordo com o engenheiro Ildo Sauer, professor da Universidade de São Paulo, o racionamento de energia significou um prejuízo de US$ 10 bilhões, incluindo no cálculo os investimentos que deixaram
de ocorrer, gastos com geradores, empregos perdidos, enfim os efeitos sobre a economia brasileira como um todo. Além disso, tirou do bolso dos consumidores R$ 430 milhões pagos em multas ao governo e às distribuidoras.
Longe das discussões, o empresário Michael Klein, dono da rede varejista Casas Bahia, é um bom exemplo de como a crise foi encarada pelos brasileiros. Em sua rede de 305 lojas espalhadas por 130 cidades, as televisões expostas passaram a ficar desligadas, metade das lâmpadas foram apagadas e geradores foram instalados. “Fizemos a nossa parte. Conseguimos evitar as multas e economizamos 38% de energia durante o racionamento”, diz Klein. Na fábrica de móveis que o grupo possui, R$ 900 mil foram investidos na compra de um gerador a diesel, que, a partir de março, será ligado apenas durante o horário de pico, entre 17h e 20h, quando o custo da energia aumenta para as empresas.
Como vendedora de eletroeletrônicos, a coisa foi mais complicada para as Casas Bahia. Klein teve de conviver com uma queda de 60% nas vendas de ar-condicionado, freezers e fornos microondas. É um retrato do ano difícil que foi 2001 para os fabricantes do setor. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica (Abinee), a venda de chuveiros e aquecedores, por exemplo, caiu 30% em todo o mercado brasileiro. Os consumidores também podem esperar outro aumento, o do preço cobrado pela energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já informou que também a partir de 1º de março permitirá um novo reajuste, agora de 2,9%. Desde 1995, as tarifas já subiram 132%, enquanto a inflação no período foi de 78%. Um argumento e tanto para se gastar menos energia.