27/02/2002 - 10:00
O PCC, Primeiro Comando da Capital, ainda é uma caixa-preta para a polícia, que conhece seus líderes e sabe onde eles estão, mas não consegue evitar suas ações. À sua maneira, a facção criminosa voltou a reclamar dos “maus-tratos no sistema penitenciário”. Para lembrar o aniversário de um ano da megarrebelião de 18 de fevereiro de 2001, quando motins em 27 presídios paulistas fizeram 19 mortos, o chamado “Partido do Crime” promoveu outras rebeliões na segunda-feira 18. Desta vez, o saldo é de 15 execuções e 49 feridos em sete penitenciárias. Na terça-feira, o Fórum de São Vicente (SP) foi metralhado, na tentativa de resgate de um detento. Um advogado morreu e um vigia ficou ferido. Os episódios vieram depois dos três atentados à bomba contra a sede da Secretaria de Administração Penitenciária, na capital, entre 13 e 18 de fevereiro, que deixaram nove feridos no prédio e no ponto de ônibus em frente.
A organização cresceu tanto que as disputas internas já estão fazendo vítimas nos presídios. Carlos Aparecido Pacheco, o Caô, que seria tesoureiro da facção, e Misael Aparecido da Silva, um dos fundadores, foram executados na última semana. Tudo indica que as mortes foram encomendadas pelo próprio PCC. A polícia levantou a hipótese de que a ordem para executar Misael veio do presídio Bangu 1, no Rio de Janeiro, por um celular, e as suspeitas recaem sobre José Márcio Felício, o Geleião, e César Roriz, o Cesinha. Segundo o promotor Márcio Cristino, o poder está mudando de mãos no “Partido”. Para ele, a única forma de controle é o bloqueio dos sinais de celulares. “Não adianta isolar e transferir os líderes”, disse. Um deles, Marcos Camacho, o Marcola, foi transferido três vezes e ficou desaparecido quase uma semana. Saber seu paradeiro foi a justificativa para a onda de violência da segunda-feira 18.
Guerra – Segundo o Ministério da Justiça, o PCC controla cerca de 5% dos 233 mil presos no País. Ou seja, quase 12 mil pessoas – 30 chefes, dois mil membros atuantes e dez mil simpatizantes. A secretária nacional de Justiça, Elizabeth Süssekind, diz que o problema maior são os integrantes que estão fora das cadeias: “Mais de mil fugiram em São Paulo e estão nas fileiras do PCC do lado de fora.” O MP paulista acredita que o grupo seja responsável por 20% dos crimes no Estado. A guerra entre facções também provoca mortes. No domingo 17, três membros do PCC foram linchados em Sorocaba (SP) por integrantes do grupo Comando Democrático da Liberdade (CDL). A vingança veio horas depois. Morreram, com facadas, três membros do CDL no Complexo Campinas-Hortolândia.