27/02/2002 - 10:00
Famoso no Pantanal pelo hábito de meditar durante as pescarias que promove pelos rios da região, o reverendo Moon tem um novo motivo para visitar seu paraíso tropical. As atividades de seu grupo, a Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial, começaram a ser investigadas por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta na quinta-feira 21 na Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul. Fundador e líder da organização, o coreano Sun Myung Moon, mais conhecido como reverendo Moon, está entre as personalidades a serem convocadas a prestar depoimento em Campo Grande. Na semana passada, ISTOÉ mostrou que, nos últimos sete anos, Moon vem formando uma espécie de território próprio na fronteira do Brasil com o Paraguai. A expansão e o estratégico posicionamento de suas propriedades estão sendo monitorados pelo Exército e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), por causa da suposta ameaça à soberania nacional. Na Polícia Federal, a organização de Moon é acusada de lavagem de dinheiro.
Desde que começou a comprar terras na região, em 1995, o reverendo já acumulou 830 mil hectares, a maior parte deles no Paraguai. São 56 fazendas do lado brasileiro, todas em áreas próximas à fronteira. Autor do pedido de abertura da CPI, o deputado Jerson Domingos (PSL) considera as atividades do grupo de Moon como um problema nacional. “Não entendo por que até hoje o Incra nunca fez uma vistoria naquelas terras”, diz o parlamentar, referindo-se ao instituto nacional de reforma agrária. “Elas parecem inativas mas poderiam abrigar pelo menos 85 mil cabeças de gado.” Defensor da criação da CPI, o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, também considera fundamental o aprofundamento das investigações federais. “Desde o primeiro dia de governo, trato a atuação do reverendo Moon como um caso de extrema preocupação para todo o País”, afirma o governador, lembrando que 15 dias depois de sua posse fez a primeira denúncia sobre o problema ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Mas há quem aponte relações do governo de Zeca do PT com Moon, como o advogado Paulo Tadeu Haendchen. “Há mais de seis meses faço um levantamento com o objetivo de pedir seu impeachment”, afirma Haendchen. Entre os indícios, o advogado cita a diminuição do valor de multa ambiental e a atuação de profissionais ligados ao governo na prestação de serviços ao grupo de Moon. O governador, por sua vez, assegura não ter nenhum vínculo com a organização e afirma que a fixação do valor da multa foi puramente técnica. “Essas acusações são estapafúrdias e refletem o jogo sujo da política do PMDB, que quer ganhar o governo na marra”, diz Zeca. Advogado do prefeito André Puccinelli (PMDB), o maior adversário político do governador, Haendchen fez na semana passada sua primeira tentativa de cassar o mandato de Zeca do PT. Com procuração de partidos da oposição, entre eles o PMDB, entrou com ação na Justiça Eleitoral, citando reportagem da revista ISTOÉ Dinheiro sobre um acordo espúrio (e não cumprido) feito entre empresários e o presidente do PT no Estado, Vander Loubet.