27/02/2009 - 10:00
No quadro dos personagens mais simpáticos da literatura policial, sem dúvida encontra-se o rotundo detetive Nero Wolfe, criado por Rex Stout quando este tinha 47 anos. Ao morrer em 1975, com 89 anos, o escritor americano havia lhe dedicado nada menos que 72 histórias – uma 73ª seria encontrada uma década mais tarde. A confraria do medo (Companhia das Letras, 364 págs., R$ 28) é a segunda novela com o personagem, escrita em 1933, na qual o autor já havia cristalizado todos os detalhes saborosos das histórias protagonizadas pela dupla Wolfe/Archie Goodwin, inspirada em Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Conan Doyle. É através das observações de seu discípulo e narrador, por exemplo, que se degustam as idiossincrasias do detetive de 123 quilos compactados em 1,80 m. Entre outras esquisitices, Wolfe se recusa a sair de casa, onde devora refeições requintadas e desarma com seu raciocínio cruelmente certeiro todos que o consultam.
A confraria do título é formada por ex-alunos de Harvard que, muitos anos antes, haviam aleijado um colega em meio a uma brincadeira irresponsável. Como vários deles começaram a aparecer mortos, o tal infeliz, agora o escritor Paul Chapin, passou a ser não “uma” ameaça, mas “a” ameaça. Trafegando na contramão, Wolfe desmonta tudo aquilo que todos vêem como “evidências inequívocas”. Durante a trama, em vez dos habituais malabarismos físicos do trabalho detetivesco, ele se vale apenas da cômoda e segura leitura dos livros de Chapin. É assim que Rex Stout garante diversão e humor da primeira à última página, aliada a doses de violência física e psíquica difíceis de encontrar em escritores mais contemporâneos, muitas vezes apontados como transgressores.