05/11/2003 - 10:00
Ela é uma peça de alta tecnologia, fabricada em titânio e alumínio. E poderá representar para paraplégicos a recuperação da posição vertical, devolvendo-lhes a capacidade de executar no dia-a-dia uma série de tarefas impossíveis a quem está condenado a passar todo o tempo sentado. Desenvolvida pelo Hospital Sarah, de Brasília, a cadeira de rodas ortomóvel pode ser usada na posição tradicional ou na vertical. O paciente se locomove, movimentando as rodas laterais com as mãos, tanto sentado quanto de pé. “Mudou completamente meu referencial. Agora, por exemplo, uso todo o quadro negro nas minhas aulas. Melhor ainda, fico e ando de pé, o que não fazia desde meu acidente de carro, há pouco mais de três anos”, comemora Augusto Assis de Oliveira, professor de química. Ele participa do projeto experimental do Sarah.
Segundo o diretor geral da rede de hospitais do aparelho locomotor, Aloysio Campos da Paz, os pacientes começaram a usar a cadeira
em junho. O projeto deverá se estender por mais um ano, com os usuários se submetendo mensalmente a exames de tomografia computadorizada em 3D, para verificação das reações dos ossos, musculatura e articulações (quadril, joelhos e tornozelos). “Temos que entender o que acontece com a organização do osso. O paraplégico fica com ausência de sensibilidade e sem o controle nervoso central sobre a parte inferior do corpo. Com as novas solicitações mecânicas que a posição vertical passou a oferecer, os ossos voltam a ter estímulo e estão reagindo e se reforçando”, explica.
A equipe do Sarah escolheu três pacientes com lesões, tônus muscular e tipo físico diferentes exatamente para ter um quadro o mais amplo possível dos efeitos da cadeira no organismo dos usuários e descobrir quem terá condições físicas de usar o novo equipamento. “Nem todo deficiente poderá usar essa cadeira. Os tetraplégicos, por exemplo, não têm força nos braços para movê-la, embora ela seja extremamente leve”, afirma Lúcia Villadino, a segunda em comando no Sarah. “A verdade é que só vamos saber quem são os usuários ideais para a cadeira ortomóvel depois de mais um ano de estudos e testes”, completa. No caso dos tetraplégicos, de acordo com ela, teria de ser desenvolvida uma cadeira elétrica, mas isso é projeto para o futuro.
Neuropsicóloga, Lúcia destaca como primeiro ganho no uso da cadeira a retomada da auto-estima por parte dos pacientes. “A felicidade que eles mostram na primeira vez em que ficam e andam de pé é emocionante”, afirma. Os protótipos foram construídos nas oficinas do Equiphos, a empresa de equipamentos hospitalares do Sarah que conta com 110 funcionários, sendo seis designers.