20/02/2002 - 10:00
Com 15 filmes no currículo, o diretor italiano Nanni Moretti é lembrado no Brasil apenas por Caro diário e Aprile. Ambos lhe valeram comparações apressadas com Woody Allen, só porque ele sabe rir com inteligência das próprias encruzilhadas existenciais. Em O quarto do filho (La stanza del figlio, Itália, 2001) – cartaz nacional –, vencedor da Palma de Ouro do Festival Internacional do Filme de Cannes e esnobado na indicação ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, o cineasta narcisista desaparece por completo. Moretti deixou de lado o próprio umbigo para realizar uma obra comovente – certamente um de seus melhores trabalhos – sobre o sentimento de perda. O próprio Moretti faz o papel de Giovanni, um psicanalista da pequena cidade de Ancona, na Itália central. Ele leva uma existência tranquila ao lado da mulher, Paola (a excelente Laura Morante), dos dois filhos, Irene (Jasmine Trinca) e Andrea (Giuseppe Sanfelice), e dos seus pacientes esquizofrênicos, sexólatras e suicidas.
Assim, a vida caminha aparentemente perfeita até desabar com a morte estúpida de Andrea durante um mergulho. A ausência do filho numa casa tão harmoniosa torna-se desesperadora, mas o choro é quase sempre contido. Pai, mãe e irmã passam, então, por
uma grande transformação, fazendo
do silêncio e da falta de comunicação
a sua rotina. Giovanni, um psicanalista antes muito seguro de seus conhecimentos, começa a se julgar incapaz de exercer a profissão e se deixa abater pela culpa. Sua relação com a mulher acaba se deteriorando e só a repentina aparição da namorada de Andrea surge como possibilidade de uma reconciliação. Moretti conduz tamanho sofrimento com sutileza de bom cirurgião. Disseca a dor através de pequenos sinais e vai comovendo lentamente, sem explosões dramáticas. O quarto do filho é uma experiência difícil, mas tem todos os ingredientes para se tornar inesquecível.