13/02/2002 - 10:00
Momentos antes de ser sequestrado, Washington Olivetto ligou para a redação de ISTOÉ para, na sua maneira eufórica e cativante, vender um peixe que vinha criando com carinho. A W/Brasil, sua agência, era parceira na produção do disco de Ronaldo Bastos e Celso Fonseca, que estava em fase de lançamento. Bastos é o autor de mais de 300 canções, entre elas os clássicos Cais, Nada será como antes e Trem azul. Fonseca é guitarrista e arranjador, trabalhou e brilhou com Gil, Caetano, Gal, etc. A dupla já tinha dois discos gravados, e o último deles, de 1997, foi ignorado pela crítica, mas cativou muitas pessoas, entre elas Olivetto, que acabou sendo o responsável pela existência deste Juventude/Slow motion bossa nova, o peixe acima referido. Ao telefone, falou-se também sobre a recente conquista do Prêmio Caboré pela W/Brasil – o que turbinava mais ainda a euforia de Washington – e do livro sobre sua paixão, o Corinthians, planejado para ser escrito a quatro mãos com o jornalista Nirlando Beirão e no qual ele acabou dedicando boa parte do tempo passado em cativeiro. Algumas farpas amigáveis sobre futebol foram trocadas com seu interlocutor, torcedor do São Paulo Futebol Clube, e, finalmente, combinou-se o envio do CD para a redação.
No final da tarde chegou o emissário de Olivetto com o disco e uma carta. Chegou também, logo depois, a notícia de que o publicitário havia sido sequestrado.
Na edição daquela semana, a semana do sequestro do publicitário, o que ISTOÉ publicou sobre Olivetto foi matéria de uma página sobre o disco de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos. Entrevistado por Luiz Chagas, Bastos disse que havia falado com o dono da W/Brasil por celular momentos antes do sequestro. “O cara estava mais animado que eu com o disco”, disse o músico, ainda perplexo com o acontecido.
ISTOÉ, que tem na busca da ética uma de suas matérias-primas mais preciosas, obedece os limites do jornalismo sério e tem como norma não publicar notícias sobre sequestros em andamento. Mais ainda quando existe por parte da família pedido explícito para a não-publicação, como foi o caso de Washington. E, principalmente, com estardalhaços desnecessários e arriscados.