14/03/2007 - 10:00
LÍDER Ana Paula, estudante de
direito que trocou a vida de
Cinderela pelo mundo do crime
Essa história é um conto de fadas às avessas. Ela é filha única, linda, rica, sofisticada e freqüenta as colunas sociais. Ele é pobre, bandido e figura na lista dos procurados pela polícia. Assim como nas páginas dos romances, os destinos dos dois se cruzaram e eles se amaram sem culpa. Tudo muito rápido, muito louco. A jovem nascida em berço de ouro virou bandida e aprendeu, com o namorado, a roubar. Mas, ao contrário do final feliz da ficção, no enredo da vida real esses personagens se deram mal. Muito mal. Ela é Ana Paula Jorge Sousa, uma estudante do 4º ano de direito e filha de um milionário paulista. Aos 21 anos tinha uma vida de cinderela. Ele é o jovem Raoni Renzo, sem estudo, filho de uma seqüestradora. Aos 18 anos já tinha passagem pela polícia por seqüestro relâmpago.
Era pouco mais de sete horas da manhã da quinta-feira 8 quando uma equipe da polícia civil paulista entrou no luxuoso apartamento da família Sousa, no elegante bairro do Cambuí – quatro dormitórios no 15º andar, com mais de 300 metros quadrados e estimado em R$ 2 milhões, com elevador privativo e panorâmico. Assim que a delegada Denise Lourenço deu voz de prisão à garota, Ana Paula não perdeu a arrogância. Seguiu-se o seguinte diálogo:
– Ana, você está presa!
– Não estou não, vamos ver? Pai, telefona para o coronel.
– Não adianta, pode ligar para quem você quiser, mas você está presa.
– Não estou, meu pai conhece todo mundo.
A tentativa de Ana Paula de intimidar os policiais não deu certo. E seu pai, um dos maiores empresários do ramo da construção civil, nem sequer pôs a mão no telefone. Diante do situação, a filha acatou a ordem, mas não abandonou a vaidade.
– Está bem. Mas você pode esperar eu pôr uma roupa melhor?
Na delegacia, Ana Paula não quis falar oficialmente sobre a sua vida bandida.
E nem era muito necessário. Os depoimentos de dois de seus comparsas a incriminavam. E mais: Para surpresa da polícia, na casa da namorada de um de seus pares foram encontradas fotos e vídeos da quadrilha, imagens que falam por si. Nos retratos Ana Paula aparece divertindo-se com uma arma calibre 32 e em companhia do resto da turma em festas particulares, banhos de piscina e, na mais incrível das cenas, supostamente os bandidos se divertem contando o dinheiro dos furtos. “É a total convicção de impunidade”, diz a delegada Denise.
QUADRILHA Orlando, Leandro e o namorado de Ana, Raoni
Segundo a polícia, a vida bandida da jovem começou há seis meses quando ela conheceu numa rave o namorado Raoni. De lá para cá, eles assaltaram quatro lotéricas e diversas mansões na mesma região onde ela vivia. “Como a Ana conhecia muito bem a área, era ela quem definia as rotas de fuga”, diz a delegada. As ações do bando ganharam fama pelas ruas de Campinas, principalmente porque era ela, com sua beleza, quem dirigia o carro em alta velocidade. Ana Paula passou a ser conhecida como “A loira do Astra”, uma alusão ao potente carro que usava para fugir. Comenta-se entre as colegas de escola que o veículo (motor 2.0, bancos de couro e automático) foi um presente que o pai lhe dera no último ano. A quadrilha era dada também a outras extravagâncias. Segundo a polícia, quando eles assaltavam as casas de loterias, os cheques que vinham junto com as notas eram lançados pelas janelas do carro. Outro detalhe que chamou a atenção dos investigadores foram os depoimentos das vítimas. “Ela deixou seu registro pessoal nas casas que assaltou, pois fazia questão de roubar os perfumes e produtos de maquiagem importados”, diz a delegada. “No quarto de Ana, perfumes como Chanel e Carolina Herrera dividem espaço com jóias e equipamentos eletrônicos”. A família da estudante está em choque e só a mãe, que é assistente social, conseguiu acompanhar a filha à delegacia. De família tradicional, os Sousa participam também do poder político nas cidades próximas. Um dos tios de Ana foi prefeito de Serra Negra e outro chegou à presidência da Câmara dos Vereadores de Campinas. Uma coisa é certa, há um detalhe nessa trama que jamais seria imaginado por nenhum escritor. Ana Paula está presa na cadeia feminina de Indaiatuba, onde divide a cela com sua sogra, acusada de seqüestro.