Na madrugada de 31 de agosto de 1997, uma Mercedes-Benz S280 preta entrou em alta velocidade no túnel sob a ponte da Alma em Paris. Fugindo de inúmeros paparazzi a quase 160 km/h, o carro espatifou-se contra uma das vigas de sustentação da ponte, matando a jovem moça acomodada no banco de trás. A morte de Diana Frances Spencer, a princesa de Gales, causou comoção mundial, principalmente nos fiéis súditos britânicos. A ponto de muitos, até hoje, não acreditarem que ela morreu vítima de um mero acidente de trânsito. E, agora, os adeptos da teoria de que um bem organizado complô teria sido o responsável pela morte da princesa ganham uma companhia de peso: a da própria Diana. Isso porque o tablóide londrino Daily Mirror publicou na segunda-feira 20 uma carta escrita pela princesa em que ela previu o acidente de carro que a vitimou. Escrita à mão dez meses antes do acidente e endereçada ao seu ex-mordomo Paul Burrell, Diana afirma na carta: “Estou vivendo a fase mais perigosa de minha vida. (tarja preta) está planejando ‘um acidente’ com o meu carro, uma falha no freio e sérios ferimentos na minha cabeça para abrir caminho para Charles se casar”, denuncia a princesa. A tarja preta foi colocada pelo tablóide londrino para evitar possíveis consequências judiciais, já que Diana deu nome àquele que perturbava o seu sono.

“Vou entregá-la fechada, para que seja aberta no futuro, caso for preciso…”, teria dito a princesa ao entregar a carta a Burrell. As declarações de Diana funcionaram como pólvora sobre a morte da mais carismática personagem da monarquia britânica. Mohammed al-Fayed, pai de Dodi al-Fayed, namorado de Diana que também morreu no acidente, há tempos reclama por um inquérito britânico sobre o acidente. Egípcio, dono da requintada loja de departamentos Harrod’s e também do mitológico Hotel Ritz, de Paris, Al-Fayed pai acusa o MI-5 (serviço de contra-espionagem britânico) de ser responsável pelo acidente, pois o namoro de Diana com um muçulmano estaria constrangendo a família real britânica. “O primeiro-ministro Tony Blair deve perceber que é hora de um inquérito público. Mais atraso soaria como se estivessem em conluio para acobertar o caso e a população não irá tolerar isso”, afirmou Mohammed, que já gastou milhões com investigações privadas. As autoridades francesas, em um extenso inquérito de 1999, concluíram que a causa do acidente foi a velocidade excessiva em que o carro se encontrava, combinada com um motorista (Henri Paul, também morto) que estava dirigindo bêbado e drogado.

A popularidade da princesa continua em alta seis anos depois de sua morte. O Mirror vendeu 200 mil cópias a mais graças à publicação da carta. E vai ser necessário que muitos mais exemplares sejam vendidos, já que o jornal sensacionalista londrino pagou mais de US$ 1 milhão a Paul Burrell para ter exclusividade na publicação de partes de seu livro ainda não lançado, intitulado A royal duty (Um dever real). Paul Burrell tem poder de fogo. Foi mordomo exclusivo de Diana por cerca de 12 anos, inclusive em seus períodos mais conturbados, como durante a tormentosa separação do casal real. Burrell começou a trabalhar para o príncipe e a princesa de Gales ainda em 1986 e permaneceu com Diana após a separação do casal, dez anos depois. Tal proximidade garantiu-lhe o apelido de “a rocha”, maneira como a princesa o tratava por ele ser “sua sustentação”. Tudo isso rendeu ao ex-mordomo não só o apelido como também muito dinheiro, principalmente depois da morte da princesa.

E, pelo visto, Burrell se considerava tão íntimo da família que até levou para casa 362 objetos pessoais de Diana e de seus filhos. Entre os objetos, avaliados em US$ 7 milhões, estavam vestidos de grife, CDs e cartas. Só que a polícia não gostou muito das, digamos, liberdades tomadas pelo ex-mordomo para com seus ex-patrões e, ao descobrir os objetos desaparecidos do Palácio de Kensington na casa de Burrell, o indiciou por furto. Pouco antes do julgamento de Burrell, a própria rainha Elizabeth II interveio e, subitamente, lembrou-se de uma “conversa particular” que tivera com o ex-mordomo, na qual ele supostamente avisara Sua Majestade que iria cuidar dos objetos de Diana. E Burrell foi absolvido. “Há forças desconhecidas que trabalham neste país”, teria dito a rainha, enigmática, segundo afirmou Burrell. Em agosto de 2001, pressionado pelas acusações de roubo, o ex-mordomo recusou diversas ofertas milionárias para relatar a vida pessoal da princesa. “Estão sugerindo que o mesmo homem que abriu mão de uma grande quantia para contar segredos reais decidiu roubar vestidos e alguns objetos claramente identificáveis como propriedade real”, afirmou à época o seu advogado. Mas, livre das acusações, Burrell não resistiu tanto à tentação e, um ano e meio depois, fechou contrato com o Mirror.

E assim foram publicados vários relatos do ex-mordomo. “A posição única que Paul Burrell ocupava na vida de Diana o habilitou como um cronista sem igual do passado fascinante da princesa”, destacou o tablóide. A partir de seus relatos, surgiu uma outra Diana, ou talvez um lado mais pessoal da própria família real. Ao contrário do que predicava o senso comum, segundo Burrell, Diana mantinha contatos frequentes com seus sogros, principalmente com o príncipe Philip, pai de Charles. “Nós (príncipe Philip e a rainha Elizabeth II) não aprovamos que nenhum de vocês tenham amantes. Eu não posso imaginar ninguém em sã consciência trocar você por Camilla”, afirmou o duque sobre o famoso antigo amor do príncipe Charles – um curioso caso em que ela já era amante antes mesmo de o príncipe ser casado.