O drama de quem sofre de obesidade mórbida – estágio avançado e perigoso da doença – vai além das limitações enfrentadas para a realização de atividades rotineiras, como dirigir. Conseguir vaga na rede pública de saúde para ser submetido a uma cirurgia de redução do estômago – em muitos casos, a única saída para esses pacientes – é um dos maiores problemas de quem precisa da intervenção. No País, há 56 hospitais credenciados pelo SUS para fazer a operação. O número, no entanto, é insuficiente para atender a uma demanda cada vez maior. Segundo o Ministério da Saúde, 4,4 milhões de brasileiros têm obesidade mórbida. Porém, das cerca de 15 mil cirurgias realizadas por ano no Brasil, apenas 1,8 mil são feitas em instituições públicas (no setor privado, elas custam até R$ 11 mil). Foi para chamar a atenção das autoridades que o vendedor Cid Penteado, ex-obeso mórbido, foi de São Paulo a Brasília, de bicicleta, e entregouna semana passada ao governo um manifesto pedindo a ampliação dos serviços oferecidos a essa população. “E quem quiser participar do movimento pode acessar o site www.exgordo.com.br”, afirma.

Se o apelo surtir efeito, será uma vitória para os milhares de pessoas que aguardam uma chance, como a universitária gaúcha Graziela Machado, 28 anos. Com 108 quilos, há um ano ela espera a sua vez de ser operada pelo SUS. “Terei de esperar mais um ano”, lamenta. O quadro é o mesmo em todo o País. No Hospital Mandaqui, em São Paulo, são mais de 4,5 mil pacientes na fila. “Fazemos três cirurgias por semana, mas temos uma demanda grande”, afirma Sizenando Lima Junior, médico da instituição. A contar pela situação, o último da fila do Mandaqui só será operado daqui a 31 anos. No Hospital das Clínicas de São Paulo, a saída para acabar com o tempo de espera foram os mutirões. “Eles diminuem a espera, hoje de três anos”, diz Bruno Zilberstein, do HC/SP.

Esperar tanto pode significar a morte de muitos doentes. Vários apresentam doenças associadas à obesidade, como hipertensão, o que eleva o risco de um evento fatal. Na opinião do cirurgião Thomas Szegö, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, uma das formas de melhorar o quadro é a criação de uma fila única. “Diversos pacientes se inscrevem em vários centros, o que ajuda a lotar os serviços”, diz. O governo estuda aumentar o número de centros credenciados para a realização da cirurgia.