07/03/2007 - 10:00
De um lado do ringue, Aloizio Mercadante, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Do outro, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Mas, espera lá, eles não estão do mesmo lado na arena Governo? Não quando existe a chance de uma disputa retórica. Convocado a dar esclarecimentos no Congresso sobre juros, Meirelles experimentou uma boa mostra do chamado "fogo amigo", aquele tipo de ataque cada vez mais comum entre aliados. O desafiador Mercadante criticou duramente a política monetária. Lançou um golpe direto: "onde está a fundamentação do Copom para desacelerar a queda da taxa de juros?". Meirelles, num quase "jab" de esquerda, revidou com números. Relatórios do BC têm mostrado constantemente a queda da inflação, meta maior do arrocho asfixiante. No desenrolar de cenas surpreendentes, surgiu de árbitro o oposicionista, ali convertido em mediador, Arthur Virgílio, do PSDB. Outros tucanos fizeram coro. E assim, flagraram-se oposicionistas atuando na situação e vice-versa, num show de plumagens, papéis e falas trocadas. Vai saber a quê, ou a quem, serviu o espetáculo, em todo bizarro. A seu tamanho e circunstâncias, faziam ali, todos, o velho expediente de jogar para a platéia. No BC, técnicos e o comandante-mor temem hoje pela indefinição de seus futuros, em meio às reformas de equipe que Lula nunca fecha e ainda não anunciou. Talvez por isso é que outros integrantes do Governo venham se sentindo incentivados a atacar. Querem espaço, e até cargos, para mudar os rumos econômicos. Na tabela de Meirelles e agregados contou ponto o abalo sísmico vivido pelos mercados, num efeito cascata gerado a partir da China. O mundo financeiro tremeu e muitos temem outros balanços. A prudência do BC serve a essa causa, mas a alta conta está sendo espetada no bolso daqueles que fazem o desenvolvimento – e de todos os brasileiros que dependem dele.