29/07/2009 - 10:00
O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, está às voltas com um escândalo sexual difícil de ser abafado. Uma voz identificada como sua aparece em trechos de gravações feitas por uma prostituta de luxo, Patrizia D’Addario, 42 anos. Natural da província de Bari, no sudeste do país, Patrizia costuma trabalhar munida de um gravador e garante que esteve em duas ocasiões no Palácio Grazioli, a residência oficial do primeiro-ministro, em Roma. Na primeira, em meados de outubro de 2008, ela encontrou outras 20 garotas, incluindo um casal de prostitutas lésbicas. Teria deixado a mansão logo após o jantar, argumentando que não costuma participar de orgias. A segunda visita, diz Patrizia, ocorreu em 4 de novembro, na noite da vitória eleitoral de Barack Obama nos Estados Unidos. Desta vez, estaria acompanhada por um empresário de Bari, Gianpaolo Tarantini, e outras duas garotas da província. Terminado o jantar, ela teria ficado a sós com Berlusconi, que lhe mostrou um catálogo de joias – algumas desenhadas pelo primeiro-ministro – e pediu que esperasse por ele em um dos quartos.
– Vou tomar um banho também. Se terminar antes de mim, me espera na cama grande, avisa Berlusconi.
– Que cama? A do Putin?, pergunta Patrizia, referindo-se ao leito com dossel barroco que Berlusconi teria ganho do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
– Sim, a do Putin, diz Berlusconi.
– Ah, que gracinha! A que tem cortinas, comenta Patrizia.
Berlusconi não confirmou a autenticidade das gravações, mas fez referência ao tema durante a inauguração de uma autopista entre Brescia e Milão, no norte do país, na quarta-feira 22. "Não sou santo, vocês já devem ter percebido isso", afirmou, sorridente, a um grupo de políticos e empresários da região. "E esperamos que aqueles que trabalham no (jornal) "La Repubblica" também tenham se dado conta." Dois dias antes, o jornal e a revista "L’Espresso", do mesmo grupo de comunicação, haviam colocado em seu site as gravações feitas por Patrizia e entregues anteriormente à promotoria de Bari. Ela conta que, para os dois encontros com Berlusconi, havia sido contratada pelo empresário Tarantini, que está sendo investigado na província por corrupção, cessão de drogas e favorecimento à prostituição.
Pelo primeiro encontro, Patrizia diz que deveria receber do empresário dois mil euros, mas cobrou apenas a metade, por não ter ficado a noite toda. Da segunda vez, não cobrou nenhum centavo, pois Berlusconi teria prometido ajudá-la a concretizar um complexo turístico em Bari, idealizado por seu pai, que se matou há 11 anos. A obra, à qual ela se refere simplesmente como "o projeto", começou a ser construída, mas teria sido embargada devido a problemas ambientais. Como Berlusconi não cumpriu a promessa, conta Patrizia, ela decidiu entregar à promotoria suas gravações, assim como as fotografias que tirou com o celular. Uma das imagens é da cama com dossel, a outra de um porta-retrato com foto da ex-atriz Veronica Lario, com quem Berlusconi tem três filhos e era casado na época.
As gravações de Patrizia são apenas o mais recente e rumoroso escândalo do gênero envolvendo Berlusconi, que completa 73 anos em setembro. No começo de maio, a mulher do primeiro-ministro pediu o divórcio, depois de quase três décadas de relacionamento, classificando como "inaceitável" o comportamento do marido diante de mulheres jovens e belas. Para Veronica, a gota d’água foi a presença de Berlusconi na festa de 18 anos de uma garota que o chamava de "papi" (papai), a quem presenteara com um colar de ouro e brilhantes. Duas semanas depois, Berlusconi voltou a provocar sensação, ao tentar incluir entre os candidatos de seu partido às eleições europeias um grupo de mulheres sem nenhum vínculo político. A maioria eram "velinas", termo usado pelos italianos para designar as bailarinas de tevê que está virando uma espécie de sinônimo para aquelas que integram o grupo de amigas de Berlusconi.
Berlusconi, na gravação
Na sequência, o jornal espanhol "El País" publicou fotos não autorizadas, tiradas na mansão do primeiro-ministro na Sardenha (leia quadro), onde ele costuma reunir amigos em festas animadas. Em uma das imagens, Mirek Topolanek, ex-ministro da República Tcheca, aparece nu, ao lado de duas mulheres em topless. Em outra, Berlusconi é flagrado sem roupas. O último escândalo da série, portanto, é o envolvimento do líder político italiano com prostitutas de luxo. Um dia depois de as gravações de Patrizia virem a público, pela primeira vez desde que Berlusconi assumiu o poder, em maio de 2006, pela segunda vez, sua popularidade ficou abaixo de 50%. Pesquisa feita pelo IPR Marketing e publicada no "La Repubblica" indicou que o índice caíra para 49% em julho, contra 53% em maio. Entre muitas "velinas", no entanto, ele continua em alta. Uma delas, Elisa Alloro, 32 anos, jornalista por formação, acaba de lançar o livro "Noi, le ragazze di Silvio" (Nós, as garotas de Silvio, em tradução livre). Na obra, Elisa garante que Silvio é "mina de sabedoria". E vai além: "Cada minuto passado com ele é como se fosse uma dádiva divina."