FOTOS: VANTOEN PEREIRA/DIVULGAÇÃO

CONFLITO Em "À Deriva", Filipa (Laura Neiva) descobre o sexo

Um novo filão começa a ganhar espaço no cinema brasileiro: o de filmes sobre adolescentes. Eles não são feitos obrigatoriamente para esse público, embora não o excluam como espectadores potenciais. O primeiro desses títulos a chegar nas telas chama-se "À Deriva" (estreia dia 31/7) e traz a assinatura de Heitor Dhalia. Mostra a descoberta da sexualidade por uma garota de 14 anos enquanto assiste, sem entender direito, à separação de seus pais. Outro filme já testado (ganhou a melhor direção no Festival de Paulínia, em São Paulo) é "Antes que o Mundo Acabe", de Ana Luisa Azevedo, sobre um rapaz que passa a receber cartas do pai desconhecido. Em ambos é abordada uma situação que está na origem de grande parte dos problemas dos adolescentes: os conflitos familiares.

Dhalia acha que qualquer ameaça à ordem do lar coloca o jovem em completa insegurança: "A família é para ele uma questão de sobrevivência. O fim de uma união o leva à sensação de que está perdendo o porto seguro." É exatamente isso o que acontece em "À Deriva" com Filipa (Laura Neiva), que passa as férias com os pais numa praia de Búzios, no litoral fluminense. O tema da separação é atualíssimo, mas Dhalia decidiu ambientar a história no início dos anos 80, quando o divórcio ainda era um assunto tabu e a traição muitas vezes punida com a morte – o filme faz até uma referência ao assassinato da socialite Ângela Diniz. Bem distante do ambiente da classe média estão as três adolescentes de "Sonhos Roubados", drama baseado no livro-reportagem da jornalista Eliane Trindade. Agora, é a ausência de uma família estruturada que condiciona a vida de Jéssica, Daiane e Sabrina, protagonistas da história, que encontram na prostituição uma forma de lidar com o desamparo. A diretora Sandra Werneck acredita que sob esse tema barra-pesada afloram questões normais a qualquer menina nessa idade. "Elas vivem dificuldades em casa, na escola, têm dor de cotovelo, passam por experiências comuns dessa fase da vida", diz a cineasta.

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Segundo Fabiano Gullane, produtor de outro filme do gênero ("As Melhores Coisas do Mundo", dirigido por Laís Bodansky), o interesse por esse filão já era previsto: "O público jovem estava pouco servido pelo cinema brasileiro." Diferentemente de Dhalia, que pretende atingir a plateia adolescente com uma abordagem mais adulta, Gullane vai no sentido oposto. Apesar de endereçado à faixa dos 14 anos, o enredo de "As Melhores Coisas do Mundo", sobre um grupo de amigos de um colégio paulistano, tem tudo para conquistar o público maduro. Em comum, todas essas produções trazem um elenco de jovens desconhecidos, cujas experiências pessoais acabaram por contaminar as histórias. "Buscamos nos afastar da postura do tiozinho tentando entender o mundo jovem", diz Gullane. Tá ligado?