29/07/2009 - 10:00
EXPERIÊNCIA Leahy testa o efeito dos venenos no próprio corpo
Ele é um cientista que odeia monotonia, previsibilidade e laboratório. O professor Mike Leahy, 43 anos, lecionava na lendária Universidade de Oxford, na Inglaterra, quando foi procurado pela emissora de tevê BBC, há cinco anos, para estrear um programa diferente. A ideia era aproximar a ciência da juventude pouco interessada no tema e avessa aos estudos. O formato deu certo. O espírito despojado e aventureiro do biólogo apaixonado por viagens e motos contrastou com o seu profundo conhecimento em microbiologia e doenças virais, adquirido num dos mais conceituados centros de ensino e pesquisa do mundo.
Após anos de sucesso em programas universitários, foi a vez do canal National Geografic apostar no estilo. No dia 2 de agosto estreia no Brasil às 21h no canal Nat Geo o programa "Entre Picadas e Mordidas" (terças-feiras, às 20h), que colocou Leahy diante de grandes desafios e o transformou numa espécie de homem cobaia. Seus companheiros de cena são cobras venenosas, crocodilos, sanguessugas, morcegos, insetos, parasitas, plantas carnívoras, aranhas e escorpiões. O objetivo é observar a periculosidade das criaturas e se deixar morder pelas menos letais, testando os efeitos do veneno no próprio corpo.
Os insetos transmissores da doença de Chagas e da malária, abundantes na floresta amazônica, estão no roteiro de estreia. E foi justamente no Brasil que ele vivenciou o mais alto risco do seu novo trabalho. Após a picada da formiga de fogo – considerada uma das mais perigosas no mundo -, Leahy teve um choque anafilático e precisou ser hospitalizado às pressas no Rio de Janeiro. "Há um limite tênue entre a experiência e a imbecilidade", diz o biólogo, que acredita haver uma linha divisória entre o risco calculado e o (quase) suicídio. "Já me recusei a algumas tarefas", confessa.
Mas o grande medo do cientista é o mundo invisível. "O perigo está naquilo que não vemos", diz ele, em referência aos micro-organismos que estão em toda a parte e provocam as piores doenças. Defensor da proximidade do cientista com seu objeto de estudo, Leahy considera o trabalho em laboratório "o mais chato do mundo" e critica os pesquisadores que ficam trancados em suas salas mergulhados em microscópios. "É fundamental não ver apenas os números, mas os seres humanos que estão por trás das estatísticas", diz. Casado e pai de duas filhas, o ex-pa cato professor britânico enfrenta resistência da mulher. "Ela reclama muito das viagens e morre de medo que nossas meninas imitem o que faço na tevê", conta. Seria Leahy um cientista inovador que experimenta todas as facetas do seu objeto de pesquisa, ou mais um personagem explorado em seus limites pelo reality show televisivo? O programa dará pistas.