22/10/2003 - 10:00
Para se chegar à ilha de Staten Island, uma das cinco grandes zonas de Nova York, só existem duas vias: pela ponte Verrazano, que conecta com o Brooklyn, ou em viagem de balsa que cruza o estuário do rio Hudson. Cinco ferrys de três pavimentos, com capacidade para 1.500 pessoas, fazem gratuitamente esse trajeto 104 vezes. Na quarta-feira 15, os ventos no local chegavam a 40 quilômetros. Era o suficiente para tornar difícil a navegação das embarcações. Esta teria sido uma das causas do horrível acidente ocorrido às 15h20, quando
a barca Andrew Barbieri, de 3.335 toneladas, bateu na ponta de uma
das docas de St. George na ilha. O impacto rasgou toda a extensão lateral do veículo, que ainda assim permaneceu flutuando. A bordo estavam centenas de passageiros que ficaram esmagados por escombros ou foram arremessados às águas. Uma tragédia que causou dez
mortes e 36 feridos, alguns com amputações de membros, cortes profundos e traumatismo craniano. A ventania, porém, não foi a maior responsável pelo desastre. O co-piloto Richard Smith, que deveria fazer
a manobra, dormiu ou ficou temporariamente paralisado, não reverteu
os motores como deveria e aportou a uma velocidade de 70 quilômetros horários, causando a tragédia.
Quando o capitão e a tripulação conseguiram finalmente dominar e parar a balsa em outro píer, Smith saiu correndo, fugiu para casa, e tentou suicídio. Cortou os pulsos com uma gilete e disparou um potente revólver de chumbinho no peito. Não consegiu se matar, o que acumula seu saldo de incompentência. Ele está em estado estável no Hospital St.Vincent, em Manhattan – o mesmo que atendeu várias vítimas do acidente. Os passageiros eram, em sua maioria, turistas que aproveitavam a viagem para ver a Estátua da Liberdade. Entre estes estava a brasileira Regina Guimarães do Nascimento, 23 anos. “A barca aproximou-se do píer em grande velocidade. Achei estranho aquela corrida, mas não sabia se era normal. As pessoas foram jogadas para todos os lados. Os assentos e outras peças do interior também foram arrancados do chão e se chocaram contra os passageiros”, conta Regina. “Muitos que estavam já na frente do barco, preparados para desembarcar, foram prensados pela multidão e por objetos. Tudo durou cinco minutos, mas me pareceu uma eternidade. Eu, que tinha medo de ataques terroristas, acabei num acidente de barco pavoroso. Volto para Belo Horizonte o mais depressa possível”, garante a brasileira.