22/10/2003 - 10:00
Os dois mais ferrenhos focos de oposição ao governo Lula estão encantados com Benedita da Silva, a ministra da Assistência Social. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, ao defender o Judiciário de acusações de desvio de conduta, disse que isso existe também no governo e como exemplo citou a viagem de Benedita a terras portenhas. A ministra viajou à Argentina no dia 24 de setembro, acompanhada por sua assessora, Ellen Márcia Peres. O motivo oficial e a autorização da viagem, publicados no Diário Oficial da União, eram a participação em um café da manhã com evangélicos da Argentina, o 12º Desayuno Anual de Oración. Como o café da manhã com preces seria no Hotel Alvear, Bené resolveu se hospedar lá mesmo com a assessora. O hotel cobra diárias de US$ 245 (cerca de R$ 700) para apartamento duplo. Ela dividiu o mesmo quarto com Ellen, o que reduziu os gastos. Quando voltou ao Brasil, no dia 26, Bené, diante das denúncias de que teria viajado ao Exterior para atividade particular com dinheiro público, afirmou que havia ocorrido um erro no ofício enviado para o presidente em exercício, José Alencar. Segundo ela, sua principal atividade seria uma reunião de trabalho com a ministra do Desenvolvimento Social da Argentina, Alícia Kirchner (irmã do presidente argentino), uma entrevista coletiva e encontro com empresários. Detratores dizem que o encontro com Alícia Kirchner só foi agendado depois que Bené estava em Buenos Aires. Além de fornecer munição para o Judiciário, a viagem também foi abordada, e com indisfarçável prazer, no programa gratuito do PSDB, o outro foco de oposição a Lula, na quinta-feira à noite na tevê.
A polêmica sobre a viagem não acabou aí. Primeiro, Lula afirmou que ela teria de devolver o dinheiro, sendo apoiado pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e pelo presidente do PT, José Genoino. Depois, Lula aliviou a pressão, mas Dirceu e Genoino, não. Para piorar as coisas, procuradores federais em Brasília abriram procedimento administrativo para investigar o caso. Como Bené é ministra, a encrenca chegou ao procurador-geral, Cláudio Fontelles, que está analisando o caso. Mas a confusão não parou. Na quarta-feira 15, a Comissão de Ética do Palácio do Planalto decidiu por unanimidade que houve conflito de interesses na viagem da ministra e que ela deverá receber uma advertência formal, por escrito. Com a punição, a Casa Civil ganhou munição para obrigar Bené a devolver o dinheiro gasto. Genoino também reafirmou, na quinta-feira 16, que o caminho para a ministra seria “devolver e corrigir o erro”. Como se não fosse pouco tudo o que o novo governo tem de enfrentar, a ministra diz que não devolve nada e vai se entender com o presidente Lula.
Que se resolva rápido.