22/10/2003 - 10:00
A metal é branco-prateado, mole e resistente à ferrugem. Leva o número 13 na tabela periódica e batiza um dos menores e mais jovens municípios de São Paulo. Com pouco mais de 15 mil habitantes e localizada a 74 quilômetros da capital paulista, a pacata Alumínio só existe porque abriga a maior fábrica integrada do chamado “ouro branco” da América Latina, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Atual “menina dos olhos” do empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, a companhia está investindo US$ 370 milhões para aumentar sua capacidade de produção em 40%. A CBA emprega atualmente mais da metade da população aluminense. A outra metade já trabalhou ou sonha em trabalhar em uma das várias etapas do processo de produção do alumínio. As outras cidades da região – Mairinque, São Roque e Sorocaba – também fornecem mão-de-obra ao complexo industrial de 3,9 milhões de metros quadrados.
A CBA, fundada em 1955, é dona de mais de 50% dos 95 quilômetros quadrados do território do município. “É tudo deles”, resume o taxista e aposentado da empresa, Zacarias Calixto Tobias, referindo-se ao poder que o grupo Votorantim exerce sobre a cidade. Com 64 anos, 13 deles como empregado da companhia, o ex-almoxarife já perdeu a conta do número de parentes e amigos que prestam ou prestaram serviços à CBA – inclusive dois de seus cinco filhos.
A história dos negócios da família Ermírio de Moraes e da cidade se misturam desde antes da fundação da CBA. Começou em Votorantim, berço dos negócios da família, com a Fábrica de Tecidos Votorantim. Em 1941, o ex-sapateiro e imigrante português Antônio Pereira Ignácio resolveu diversificar os negócios. Junto com o genro, José Ermírio de Moraes (pai de José, falecido recentemente, e de Antônio, atual líder do grupo), Ignácio iniciou a construção da fábrica de alumínio no então distrito de Rodovalho, que pertencia ao município de Mairinque. Em junho de 1955, as primeiras toneladas do minério de bauxita começaram a ser processadas na nova fábrica. A experiência de Votorantim (que também nasceu em volta da fábrica de tecidos e depois cresceu) se repetia.
No início da década de 80, a população superior a dez mil habitantes
do distrito começou a articular a sua emancipação. Mais uma vez a
CBA deu suporte e acolheu no chão da fábrica as primeiras comissões
que negociariam a independência. O primeiro prefeito, José Aparecido Tisêo (PFL), seria eleito em 1992. “Se não fosse a CBA, a cidade
não existiria”, admite o político, novamente investido da função
de prefeito. Antes de servir à população, Tisêo, é claro, trabalhou durante dez anos na companhia.
A dependência que os órgãos públicos têm da CBA é brutal: cerca de 95% da receita anual de R$ 20 milhões vem da arrecadação de ICMS da companhia e do ISS pago pelas empresas terceirizadas. A CBA também é responsável por quase tudo o que foi construído na cidade, como a igreja matriz, a delegacia de polícia, o destacamento da PM e, recentemente, o projeto da nova Câmara municipal, orçado em R$ 1,3 milhão, cujo terreno no centro da cidade foi doado pela companhia. As boas condições socioeconômicas do município – desemprego zero e taxas irrisórias de criminalidade – colocam o município entre os dez melhores em qualidade de vida do Estado de São Paulo. A renda per capita atinge R$ 1 mil, a maior da região e a quarta mais alta do Estado.
Há famílias inteiras dependentes da CBA. O caso de Vander Lima Nader, um técnico-assistente de 53 anos, é exemplar. Em 30 anos de trabalho na empresa, ele criou e formou os três filhos. Dois deles seguiram os passos do pai. Túlio, 29 anos, e Cristiano, 28 anos, começaram como ajudantes na CBA. Hoje, graças ao incentivo que tiveram para estudar, são formados em engenharia e têm cargos de chefia nos departamentos onde começaram como ajudantes. “Graças à CBA construí alguma coisa na vida”, diz Nader, que não descarta a possibilidade de o neto, Douglas, três anos, seguir o mesmo caminho. Alguém duvida?