22/10/2003 - 10:00
Depois de quase meio século do início de seu programa espacial, a China finalmente lançou seu primeiro vôo tripulado ao espaço. Às 19h23 da quarta-feira 15, horário de Brasília, a nave Shenzhou-5, que significa nave divina, em chinês, aterrissou na Mongólia depois de realizar 14 voltas ao redor da Terra. O sucesso da missão, que durou 21 horas, começou a se desenhar um dia antes, com a partida da nave do Centro de Lançamento de Jiuquan, a 1,6 mil quilômetros da capital Pequim. A apreensão inicial deu lugar a uma alegria contagiante, com o retorno da nave, intacta. Missão cumprida: a China se alinha às duas outras potências mundiais, a Rússia e os EUA, que já enviaram seus astronautas ao espaço. “O lançamento foi a glória de nossa grande terra natal e um passo significativo do povo chinês rumo ao topo do mundo científico e tecnológico”, disse o presidente da China, Hu Jintao, à agência oficial do governo.
Temendo o fracasso de um projeto que custou US$ 700 milhões, o governo chinês proibiu as transmissões ao vivo. A população só pôde ver as imagens dez minutos após o lançamento. Mantiveram em segredo, até o último momento, a data e o horário da partida da missão, bem como o nome do piloto que entraria para a história como o primeiro taikonauta (astronauta chinês) a ir para o espaço. Filho de uma professora e de um contador de uma pequena cidade industrial ao norte do país, o tenente-coronel Yang Liwei, 38 anos, foi o escolhido entre 14 pilotos treinados. Pai de um menino de oito anos, Liwei é casado com uma funcionária pública e recebe salário mensal de US$ 1,2 mil.
O piloto não teve muito trabalho a bordo. Como a estréia chinesa não foi uma missão científica, ele se concentrou em operar equipamentos e câmeras para mapear a superfície da Terra. Com isso, a China espera obter o conhecimento necessário para construir satélites espiões. Assim como seus antecessores que orbitaram a Terra, Yuri Gagárin e John Glenn, Liwei enviou comentários do espaço: “A vista da Terra é muito bonita.” Contrariando o relato de alguns, Liwei não conseguiu avistar a Grande Muralha da China.
Pólvora – O sucesso da empreitada repercutiu no mundo todo. O administrador da agência espacial americana (Nasa), Sean O’Keefe, parabenizou a missão e desejou à China “um contínuo e seguro programa de vôo tripulado”. Sentimento compartilhado por países europeus e pela Rússia, onde os taikonautas foram treinados. Especialistas afirmam que o país tem tudo para ingressar no projeto da Estação Espacial Internacional (ISS), que reúne esforços de 16 países, entre eles o Brasil. Os chineses esperam alavancar o país ao posto de grande potência tecnológica também na área espacial. Eles foram responsáveis por feitos importantes, como a descoberta da bússola, da pólvora e até mesmo do italianíssimo macarrão. A expectativa é que o segundo vôo tripulado ocorra no ano que vem, mas, segundo autoridades do país, serão necessários mais quatro vôos para que a Shenzhou esteja afiada.
Antes disso, a China aposta em outros projetos. Deve lançar nesta semana o segundo satélite da série Cbers, que faz parte de um
acordo de parceria com o Brasil. O primeiro Satélite Sino-Brasileiro
de Recursos Terrestres foi lançado em 1999 e suas imagens ajudam
no monitoramento florestal, agrícola e urbano. Será a primeira vez que
o Brasil utiliza um sistema de processamento de imagens com tecnologia 100% nacional para traduzir as informações enviadas pelo satélite.
“Isso nos coloca numa posição de independência tecnológica em
relação a outros países”, comemora Antonio Machado e Silva, diretor
da Gisplan, a criadora do sistema.