em sempre desfrutar da intimidade do biografado resulta numa boa biografia. Proximidade demais pode desaguar em parcialidade. É o caso de Os paralamas do sucesso – vamo batê lata (editora 34, 338 págs., R$ 39), do veterano jornalista e crítico carioca Jamari França. Livro que exibe, em páginas demais, os defeitos e as qualidades de quem tem passe livre entre os integrantes do trio formado por Herbert Vianna (guitarras e vocal), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria). França não disfarça sua admiração pelos feitos dos três, revistos de maneira superlativa. Às vezes, se movimenta como um católico fervoroso escrevendo sobre o papa.

É bom dizer que Jamari França é do ramo. Há décadas milita com propriedade na imprensa musical, tem fluência e sabe reconhecer boas histórias. Foi testemunha ocular e narra no livro alguns dos momentos dramáticos na vida da banda. É feliz quando rememora passagens pouco conhecidas, entre elas farras juvenis do trio, amplificadas por aditivos vários. Também extrai declarações confessionais de Herbert Vianna sobre a paz afetiva conquistada no casamento com Lucy Needham – falecida mãe de seus três filhos – e sobre a fossa abissal que chafurdou após a separação de Paula Toller, vocalista do Kid Abelha.

Mas poderia ser mais enxuto e se eximir de trazer críticas e mais
críticas publicadas na imprensa sobre cada álbum da banda, em algumas passagens acrescentadas de textos feitos para a divulgação dos discos. Como especialista, França escorrega na tentação de se alongar em minúcias técnicas que parecem destinadas a um engenheiro de som e enfadonhas para quem não é músico. Ele também parece insinuar, sem afirmar, que os críticos cariocas foram bem mais receptivos e abertos
às propostas musicais dos Paralamas do que os paulistas. O autor não esconde que escolheu um lado, o lado A. Deixa a sensação de que
Os Paralamas do Sucesso ganharam um biógrafo oficial e que a história ainda poderá ser recontada por outras fontes que não sejam admiradoras tão próximas do grupo.