22/10/2003 - 10:00
Famoso como ator e consagrado como dramaturgo, o americano Sam Shepard também tem lugar de destaque na literatura. O mais recente reflexo de seu talento é Grande sonho do céu (Arx, 176 págs., R$ 28), que acaba de ser lançado no Brasil. São 18 contos que oscilam entre tensos e trágicos, às vezes desconcertantes. Em todos, Shepard mantém uma espécie de culto à solidão e uma aguda capacidade de recriar cenários vindos de detalhes quase imperceptíveis. Tais características estão particularmente evidenciadas no conto Vivendo o cartaz, no qual um homem induz um jovem balconista a refletir sobre a existência a partir da visão de uma mensagem manuscrita, dependurada num gordurento restaurante de beira de estrada. Outro que segue a mesma linha rica em minúcias é o que dá título ao livro. Nele, a solidão ronda o relato do estrago feito por uma garçonete no relacionamento entre dois homens de idade avançada,
que eram amigos desde sempre.
Cronista do espírito aventureiro americano, Shepard ainda cria três histórias em torno de cavalos, paixão cultivada desde a infância.
Seu primeiro emprego foi como jóquei. Grande sonho do céu sai no
Brasil depois de Cruzando o paraíso (1996), que traz contos repletos
de retratos turbulentos. Em ambos, Sam Shepard mantém-se fiel à escrita nervosa, de textos curtos. Nada é em vão. Mesmo as menores histórias são de impacto. Em determinados momentos até revelam
pitadas de lirismo e afeto.