Organizada pela jornalista Simonetta Persichetti e pelo fotógrafo Thales Trigo, a Coleção Senac de fotografia preenche uma lacuna ao apresentar de forma sistematizada a produção de fotógrafos brasileiros de importância fundamental para a evolução desta arte. São profissionais que fizeram a ponte entre o período no qual o que contava era o “olho do fotógrafo” e a fase da uniformização da produção de imagens, evidenciada a partir da virada dos anos 1990 com a introdução das novas tecnologias.

O volume 1 Luis Humberto e volume 2 Hélio Campos Mello (Editora Senac, com 70 págs. em média, R$ 25 cada um) enfocam os militantes do primeiro segmento. Além das fotos, os livros trazem pequenas biografias e currículos profissionais. O arquiteto carioca
Luis Humberto atuou durante quatro décadas nos principais veículos
de imprensa, ao mesmo tempo que construía sólida carreira acadêmica, participando da fundação da Universidade de Brasília em 1962, à qual continua ligado como pesquisador associado do programa de pós-graduação. Assim, paralelamente ao seu trabalho, busca a notícia,
o assunto, realiza o que ele chama de poética do banal. Daí ter selecionado tantas fotos do seu cotidiano em Brasília, focalizando
sua família e anônimos.

O paulistano Hélio Campos Mello, desde 1996 diretor de redação da revista ISTOÉ, preferiu privilegiar sua atividade de campo. Depois de estudar fotografia em Florença, Itália, Mello tornou-se um profissional respeitado, chefiando o departamento de fotografia de vários veículos, período em que cobriu os comícios de São Bernardo do Campo, Grande São Paulo, nos estertores da ditadura; a invasão americana do Panamá, em 1988; ou a Guerra do Golfo, quatro anos mais tarde, quando ele e o repórter William Waack foram presos no Iraque pela guarda republicana. Simonetta acha que Mello é o fotojornalista clássico. “Ele chega perto e se transforma no próprio olho do leitor.” No geral, Trigo pretende publicar fotógrafos que nunca reuniram suas fotos em livro. “É importante mostrar a permanência dos trabalhos”, diz ele.

Como a coleção pretende seguir um espírito eclético, já está em fase de produção, para sair no início de 2004, volumes focalizando o paisagismo de Luiz Carlos Felizardo, o trabalho em publicidade de Ricardo de Vicq e o de moda, de Thomas Susemihl. Também já tem agendados os volumes de Rosa Gauditano, Nelson Kon, João Urban e Pedro Martinelli. O presidente do Conselho Regional do Senac do Estado de São Paulo, Abram Szajman, é um dos maiores entusiastas do projeto de Simonetta e Trigo, mesmo porque a entidade que preside abriga há 25 anos a única escola superior de fotografia da América Latina. Para Szajman, a própria permanência dos trabalhos determina a sua publicação.