30/01/2002 - 10:00
omeçou a concentração para o Carnaval. Nos barracões, a ordem é amarrar o samba e não deixar a harmonia desandar. Nas academias, famosos travam uma batalha íntima e muito mais dura. Na época do ano em que todos os corpos estão em evidência, ninguém quer virar notícia e fonte de fofocas pela má forma física. A carioca Luma de Oliveira, a deusa da luxúria e da mídia, já deu o tom da festa: no auge da exuberância, com seu revelador vestidinho vermelho e a calcinha cor da pele que teimou em se mostrar, foi alvo dos implacáveis flashes dos fotógrafos. Preparada para causar alvoroço pelas curvas perfeitas, acabou traída pelo detalhe. Imagine se, em vez da lingerie transparente, ali houvesse uma gordurinha a mais ou um pneuzinho. O escândalo teria sido dobrado.
Quando a fama está diretamente relacionada aos dotes físicos, estar bem é obrigação. Nos cinco dias de folia, aparecer na tevê com furinhos no bumbum é a morte. Que o diga Joana Prado, ex-Feiticeira. Focalizada em todos os ângulos possíveis desde sua estréia no Sambódromo, há dois anos, ela vem desenvolvendo obsessão pela perfeição estética. Com apenas 8% de gordura no corpo (a média da brasileira é 22%), além de fazer 300 abdominais por dia, pratica corrida e musculação. Em nome da rigidez dos glúteos, já chegou a fazer agachamento com um peso de 100 quilos nas costas. Também trabalha os músculos da barriga pendurando-se numa barra e segurando entre os joelhos uma bola de areia de sete quilos. “Nesta época do ano, a gente aperta o torniquete”, conta o personal trainer da musa, Renato Ventura. “Como toda mulher, tenho certeza que meus pontos críticos são o bumbum e as coxas”, diz Joana.
O fato de ter sido eleita por três vezes a mulher mais sexy do mundo não livra a dançarina Scheila Carvalho das mesmas angústias. A morena do É o Tchan faz loucuras para manter a forma. Além de ter fechado a boca aos doces, refrigerantes e frituras, fez mesoterapia e drenagem linfática (injeções e massagem para combater a celulite). Com 1,60 m e 57 quilos, morre de medo de ficar marombada, mas recorre aos pesos e aparelhos de ginástica para aguentar a maratona dos trios elétricos. Mas engana-se quem pensa que tamanho esforço é para agradar ao gosto masculino. “Tenho medo é da inveja das mulheres”, diz Scheila. “Elas cobram perfeição.” Pensando nisso, a morena pôs silicone nos seios para envergar com orgulho o figurino top-short. “Dizem que expor-se assim é vulgar, mas eu não concordo. Desde Carmen Miranda as brasileiras expõem o corpo.”
Menos vestida – Se a Pequena Notável era considerada ousada por exibir o umbigo, o que dizer de Sheila Mello? Três vezes capa de Playboy, foi eleita pela revista ISTOÉ Gente uma das celebridades menos vestidas de 2001. Ela tem por que se exibir. No começo da carreira, usava calça baggy e camiseta e ninguém lhe dava bola. Com lipoaspiração, conseguiu a cintura ideal. Fez dois implantes de silicone no seio e voilá: “Virei vitrine e hoje sou apontada como sexy”, conta. “Alguns acham que não temos pudores, mas é a mídia que expõe nosso corpo sem se preocupar com o conteúdo”, divaga. Neste pré-Carnaval, Sheila se dedica à malhação e à dieta. Mas as “imperfeições” parecem persegui-la. “Não tenho o corpo ideal. Gostaria de tirar gordura das costas”, diz.
A luta de sua antecessora, Carla Perez, é ainda pior. Aos 23 anos, corre para recuperar a silhueta perdida durante a gravidez da filha, Camilly Victoria, de um mês. Ela, que sempre fez da folia sua vitrine, costumava ser manchete por causa de mutações como silicone nos seios, plástica no nariz e lipoescultura. Posou nua até durante a gravidez. Agora prepara sua volta para o Carnaval. Caminha até seis quilômetros por dia e faz hidroginástica. A cozinheira prepara refeições à base de cereais, frango e peixe grelhados, frutas e verduras. Refrigerante, só diet. Para reaparecer dez quilos mais magra, arrastou até o marido para a dieta.
Sortuda é a mulata Valéria Valenssa. Símbolo do Carnaval, mantém a forma sem sofrer. “Meu segredo é o samba”, conta. Em cartaz no Rio com um espetáculo de teatro de revista, diz que os ensaios e as apresentações são esforço suficiente. “Só faço alongamento”, jura. A pele de ébano é mantida com bronzeamento natural. O marido chegou a mudar a piscina de lugar para que ela pudesse tomar sol totalmente nua, longe dos curiosos. Pena que o esforço não tenha cativado Dona Zica, da Mangueira, que não aceitou que ela desfile sem roupa este ano. É de janeiro a março que a agenda de Valéria fica lotada. A cada apresentação, seu cachê varia de R$ 8 mil a R$ 12 mil. No resto do ano, a Globeleza se desdobra fazendo comerciais e shows.
Sua rival de avenida, Nana Gouvêa, não chega a ser uma marombeira, mas tem de suar o corpinho em aulas de ginástica localizada na academia Rio Sport Center, na Barra da Tijuca. Há oito anos, seu corpo é mostrado à exaustão durante o desfile da Caprichosos de Pilares. “Fui abençoada porque nem na gravidez tive barriga”, diz Nana. Apesar de todos os cuidados com cada pedacinho do corpo, Nana assegura que gosta mesmo é de cuidar da pele e dos cabelos. Quem assistiu ao programa Casa dos artistas, do SBT, pôde comprovar isso. Nana ficou famosa por passar grande parte do tempo besuntando os seios de creme. “Gasto um tempão e um dinheirão com isso”, diz.
Os brutos também malham
Se as mulheres são as senhoras absolutas da folia, a cada ano aumenta o número de homens interessados em seguir o mesmo caminho. O responsável pelo fenômeno já está se cuidando para não atravessar o samba. O baiano Xanddy, do grupo Harmonia do Samba, resolveu fugir de vatapás, acarajés e moquecas. Tudo para manter o bumbum que encantou Caetano Veloso no Carnaval de 2000. “É importante estar com o corpo legal por respeito ao público”, afirma. Ele tem feito dieta junto com a mulher, Carla Perez, e jura que não precisa de mais nada para manter o corpão.
Ao contrário de Xanddy, Flávio Mendonça, um dos Gêmeos que enlouqueciam a mulherada no Superpositivo, na Band, não vive sem academia. A proximidade do Carnaval o fez apertar o ritmo. Malha uma hora por dia cinco vezes por semana. O menu do musculoso é um coquetel composto por milk-shakes de proteína, pão integral, batata-doce, castanha-do-pará, verduras, frutas, peito de frango grelhado e claras de ovo. “Vivo em função do meu corpo”, diz Flávio. Fora da telinha desde novembro, os Gêmeos dizem ter duas propostas para voltar à tevê. “Eu e meu irmão não precisamos mais do Carnaval para aparecer”, afirma Flávio. Se é assim, para que tanto esforço?