Ogilvy Brasil, conceituada agência de publicidade, acaba de retomar um trabalho que havia se tornado tradicional, tempos atrás. De 1977 a 1997, eles produziram uma pesquisa que chamavam de Listening Post, um eficiente raio X do País. Um posto de escuta da sociedade brasileira, a pesquisa detectava tendências e antecipava as transformações dos usos e costumes das classes sociais brasileiras. Os resultados desta retomada, antecipados com exclusividade para revistas por ISTOÉ, são bem interessantes. Já a partir do título, bastante sintomático, tem-se um bom retrato da sociedade brasileira atual. Umbigo nacional – pensando no coletivo. Agindo no individual. Os brasileiros hoje mostra que estamos mais egoístas e um pouco mais hipócritas. A palavra, reconhecemos, é um tanto quanto pesada, mas retrata bem as contradições vividas por nossa sociedade. A pesquisa, que ouviu 900 pessoas de ambos os sexos, constatou, por exemplo, que o brasileiro se orgulha muito mais dele do que de seu país. Como se nada tivesse a ver com as mazelas que assolam o Brasil. A hipocrisia se revela também quando ele censura as transgressões generalizadas, mas reconhece que as comete.

Todos já sentimos na pele, e nos nervos, quando somos ultrapassados nas estradas por motoristas que usam, em alta velocidade, o acostamento como se fosse o banheiro de suas casas. Ou, então, quando presenciamos ou somos vítimas de desvairadas disputas por alguma vaga de estacionamento de shoppings, como se ocupá-la antes do outro fosse uma façanha merecedora dos aplausos reservados a uma jogada genial de Ronaldinho Gaúcho. Para estes, a cordialidade é não só um bem supérfluo como também digno de chacota.

A pesquisa foi feita entre 31 de agosto e 6 de setembro, portanto em plena crise
de mensalões, cpis e disputas e baixarias políticas. E, não por acaso, o festival
de bravatas e ameaças de surras apresentado em Brasília na última semana
serve à perfeição como comprovação e demonstração da acuidade da pesquisa
da Ogilvy Brasil.

Inevitável lembrar da campanha para aumentar a auto-estima do brasileiro, na qual se dizia que o melhor do Brasil é o brasileiro. Ou seja, passamos, de repente, da baixa estima para a alta baixaria. É um verdadeiro salve-se quem puder.