09/11/2005 - 10:00
Não é de estranhar que um naufrágio tenha sido aquilo que levou o diretor James Cameron à estratosfera da indústria do cinema. Aos 51 anos, este canadense radicado nos Estados Unidos é o diretor do filme que mais faturou na história, Titanic (1997). E o barco famoso continua jogando água na piscina de Cameron. Chega às lojas na quarta-feira 16 a Edição de Colecionador de Titanic em pacotes de dois, três ou quatro DVDs. Lá se encontram, além de cenas inéditas, entrevistas, histórico de filmagens e um novo final, inédito. Cameron, simpático e afável – ao contrário daqueles que o pintam como um egocêntrico brusco –, conversou com exclusividade com ISTOÉ, em Los Angeles, no anúncio do lançamento da coleção digitalizada. Além de falar sobre seus novos projetos e o futuro do cinema, esclareceu que a história original não sofreu mudanças radicais na edição alternativa.
ISTOÉ – Qual o final alternativo de Titanic? O navio não afunda? A guarda costeira salva todo mundo?
James Cameron – Não, não é nada disso. O que se chama agora de final alternativo é simplesmente o final original. Quando fizemos o filme, o desfecho era este que agora agregamos na nova coleção. Mas o filme estava ficando longo demais. Sentimos a necessidade de diminuir a duração e editá-lo melhor. Assim, fizemos um corte nas cenas finais. Acho que ficou tudo melhor na última edição. O que fizemos agora foi colocar a versão original no DVD, para que as pessoas possam pescar este final e ver como seria o filme imaginado. Mas a história continua a mesma – ninguém salva o Titanic.
ISTOÉ – Quando o sr. filmou Titanic já existia a idéia de lançar cenas alternativas nos DVDs?
J.C. – Não houve nenhuma intenção de cortar cenas ou criar cenas para que
fossem acrescidas aos DVDs depois. Eu sei que existem diretores que fazem
isso – já filmam cenas que vão direto ao DVD ou criam finais alternativos que mudam a história. Mas isso não ocorreu com Titanic. É bom lembrar que, na época do lançamento do filme, a indústria de DVDs ainda estava em sua infância, e não havia estratégias de marketing tão bem definidas como hoje em dia.
ISTOÉ – Titanic foi um filme muito inovador do ponto de vista técnico. Como o sr. vê o futuro do cinema?
J.C. – Nos meus próximos dois filmes, que estão sendo feitos juntos, utilizo técnicas que venho desenvolvendo nos últimos dois anos. A mais inovadora é a tecnologia das câmaras de filmagem tridimensional. Não se trata do antigo filme tridimensional que já conhecemos, mas algo muito mais sofisticado, que nos eleva a outro nível. Por exemplo: temos animação computadorizada em três dimensões. Assim, o espectador coloca os óculos especiais e entra num mundo diferente, uma espécie de realidade alternativa.
ISTOÉ – O diretor Steven Spielberg vai fazer filmes tridimensionais que dispensam o uso de óculos especiais. Não seria este um passo mais inovador?
J.C. – Spielberg é um grande diretor, um dos maiores cineastas da história. Mas não é engenheiro. Não acredito que ele vá fazer filmes tridimensionais sem o uso de óculos tão cedo. A tecnologia simplesmente não existe e vai demorar a existir.
ISTOÉ – Fale um pouco sobre seus novos projetos.
J.C. – Minha idéia inicial é fazer com que as pessoas voltem ao cinema. Há uma queda acentuada de público. O primeiro, que chamamos Angels, é baseado nos “anime” – as histórias em quadrinhos japonesas. O segundo ainda é segredo e não vou falar dele.
ISTOÉ – Qual foi sua maior contribuição científica com documentários como Aliens of the deep?
J.C. – Bem, nossas descobertas são pequenas peças que vão se encaixar num gigantesco quebra-cabeça de pesquisas científicas. Revelamos novas espécies em seu hábitat, por exemplo. Mas isso é uma contribuição ainda muito pequena. O que mais me entusiasma é o fato de o filme ter mostrado às crianças que ser cientista é legal. Provocar o interesse dos jovens em ciências foi a melhor contribuição. Se 20 crianças que viram o filme seguirem carreiras científicas, já considero um grande progresso.