Conselhos do Dalai Lama desabam sobre nossas cabeças. Polêmicas investigações sobre Priorado de Sião, Ordem dos Templários e Opus Dei disputam espaço nas prateleiras após a estrondosa bofetada desferida por Dan Brown em O código da Vinci. Biografias de anjos, evangelhos apócrifos, romances ditados por espíritos e manuais do jogo de búzios transformam bibliotecas inteiras em simulacros de oratórios de todos os credos.

Lançado em março, Jesus, o maior psicólogo que já existiu (Ed. Sextante, R$ 20), de Mark W. Baker, está há 30 semanas na lista de mais vendidos. Com design inovador, Os 72 nomes de Deus (Ed. Rocco, R$ 90), de Yehuda Berg, líder do centro de cabala freqüentado por Madonna e David Beckham, merece destaque na maioria das lojas. A médium Zíbia Gasparetto comemora a 46ª edição de Ninguém é de ninguém (Ed. Vida e Consciência, R$ 26), ditado pelo espírito de Lúcius, apenas cinco anos depois de lançado. Fenômenos como esses justificam a surpreendente escalada do segmento religioso. Segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o faturamento do setor passou de R$ 192 milhões em 2003 para R$ 238 milhões em 2004: um aumento de 24%, enquanto o mercado de livros em geral cresceu apenas 2%. Em exemplares, este filão corresponde hoje a um quinto do total de livros vendidos no Brasil.

Autor de 75 títulos, nos quais mistura religião com política, psicologia e meio ambiente, Leonardo Boff considera essa busca crescente por leituras místicas produto do desconforto da população em relação à ciência. “O avanço tecnológico não resolveu nossos problemas existenciais”, arrisca. Para ele, que acaba de lançar Virtudes para um outro mundo possível: hospitalidade (Ed. Vozes, R$ 18,50), o fenômeno é intensificado em momentos de crise. “Quando as estrelas-guia deixam de apontar o caminho e os tsunamis se mostram mais fortes do que a ciência, ficamos angustiados.”

Essa combinação de temas é a receita de Gabriel Chalita, secretário de Educação do Estado de São Paulo, que em dois meses vendeu 200 mil exemplares de Educar em oração (Ed. Canção Nova, R$ 18). “O que a religião pode fazer de mais bonito é não ser proselitista, mas levar o sentimento religioso de paz e gentileza ao cotidiano. Muitos desses autores nem possuem uma religião específica”, diz. Rubem Alves, educador, psicanalista e teólogo, é um deles. Ex-pastor presbiteriano, hoje se diz ateu. “Quando querem saber se eu acredito em Deus, pergunto a qual deus a pessoa se refere. Não creio no Deus chantagista e vingativo em que muitos acreditam”, diz. Suas crônicas, repletas de metáforas, conciliam mitos budistas com filosofia ocidental. Ateu ou não, ele lança mão de parábolas bíblicas para falar de pedagogia e amor. Para ele, o mercado editorial repete o fenômeno da renovação carismática ao oferecer conforto espiritual.

Astros de Hollywood – Com a mesma intenção de suprir essa falta, alguns autores acabam alçados à condição de gurus. Além de Paulo Coelho e Dalai Lama, ganham força nomes como Deepak Chopra, Osho, Anselm Grün e Brian Weiss. Deepak Chopra é um indiano radicado nos Estados Unidos que conquistou astros de Hollywood ao difundir os benefícios da medicina ayurvédica, de origem hindu, e vendeu mais de 20 milhões de livros em 35 idiomas. O mais recente é A realização espontânea do desejo (Ed. Rocco, R$ 28). Líder de um centro de meditação em Puna, na Índia, Osho ficou famoso nos anos 80 por pregar o amor livre e desfilar sua coleção de Rolls-Royce. Polêmico, morreu, talvez com Aids, em 1990, e tem sido muito publicado no Brasil. O livro mais recente é Meditação para pessoas ocupadas (Ed. Gente, R$ 50).

Anselm Grün é o best-seller da Editora Vozes. Monge beneditino alemão, ficou conhecido aqui com Cada pessoa tem um anjo e lançou Dimensões de fé (Ed. Vozes, R$ 16). Já o americano Brian Weiss virou sinônimo de regressão com obras como A cura através da terapia de vidas passadas e vem a São Paulo este mês para lançar Uma alma, muitos corpos (Ed. Sextante). Já vendeu um milhão de livros no País.

Os evangélicos também têm seus autores de cabeceira, como Rick Warren, de Uma vida com propósitos (Editora Vida, R$ 25), e Bruce Wilkinson, de A oração de Jabes. O livro de Wilkinson ficou 25 semanas no topo da lista de mais vendidos do New York Times e bateu 8,3 milhões de exemplares vendidos em 2001, um recorde. O autor acaba de lançar no Brasil Além de Jabes (Ed. Mundo Cristão, R$ 25). O texto de Warren, por sua vez, é a obra cristã mais vendida no mundo: 24 milhões de exemplares em quatro anos. No Brasil, já vendeu mais de 350 mil. Pesquisa feita pela Associação dos Editores Cristãos acusa um faturamento de
R$ 239 milhões pelo setor em 2004 e um crescimento de 13% no número de exemplares em relação a 2003.