09/11/2005 - 10:00
Portador do vírus da Aids há 11 anos, o ambientalista Bruno (nome fictício), de São Paulo, enfrenta a fase mais difícil de sua vida desde que sua doença foi descoberta. São palavras dele: “Quando recebi o diagnóstico, tive um baque, mas me segurei. Agora é o momento em que estou mais frágil.” Bruno não responde mais a alguns remédios. Em junho, seu médico determinou que era hora de recorrer a uma das últimas estratégias a ser adotada contra a síndrome. E indicou o Fuzeon, droga da classe dos inibidores de fusão. O pedido do remédio foi enviado ao governo, que o fornece gratuitamente. Mas até a semana passada Bruno não havia sido atendido e planejava entrar com uma ação na Justiça para garantir o acesso ao produto.
Ele e seu médico asseguram que tudo foi feito dentro das normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde para a liberação do Fuzeon, cujo custo é elevado (US$ 17 mil anuais por doente, segundo o governo). Ele só é entregue quando os requisitos são cumpridos (formulário explicando por que foi indicado, histórico com os esquemas terapêuticos adotados e exame de genotipagem, que mostra quais drogas não surtem mais efeito). “Até paguei o exame num laboratório particular para acelerar o processo”, conta o ambientalista. Qual é o x da questão? “A burocracia dificulta a liberação. Quem necessita do remédio tem um perfil avançado da doença. A espera de meses pode atrapalhar a tal ponto que a pessoa pode não se beneficiar mais”, critica Michal Gejer, infectologista do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo. Foi o que ocorreu na semana passada com um paciente que conseguiu a droga após dois meses de expectativa. No dia seguinte ao início da terapia, ele estava em coma.
O governo se defende. “Os pedidos têm de estar completos para que sejam avaliados. O problema é que alguns médicos acreditam que basta a palavra deles. Não é assim. Precisamos de documentos. E isso ainda está faltando nesse caso”, diz Pedro Chequer, diretor do programa nacional de DST e Aids. Segundo ele, a liberação sai, em média, em 20 dias. Até o momento, cerca de 400 pessoas recebem o produto.