09/11/2005 - 10:00
A utilização das verbas de propaganda da Visanet pode ter sido ainda maior. Serraglio esclareceu que as verbas suspeitas de desvio para o PT foram liberadas exclusivamente pelo banco. O BB pagou adiantado à DNA R$ 73,851 milhões nos anos de 2003 e 2004. Essa mesma prática existia também nos anos de 2001 e 2002, quando o BB pagou à agência R$ 16,85 milhões, também antes de receber qualquer serviço. Até agora os desvios de recursos públicos foram comprovados apenas em 2004. Nesse ano, a Visanet depositou R$ 35 milhões na conta da DNA no BB no dia 12 de março. Três dias depois, a agência de Valério aplicou no fundo BB-DI o valor de R$ 34,8 milhões. No dia 22 de abril, a DNA fez uma transferência eletrônica (TED) no valor de R$ 10 milhões para o BMG. Menos de uma semana depois, em 26 de abril, o BMG concedeu um empréstimo de R$ 10 milhões a Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda. no mesmo valor da TED. Esse empréstimo de R$ 10 milhões consta da relação de Valério junto ao PT. A CPI dos Correios quer comprovar que mais dinheiro da Visanet sustentou o esquema.
O relator Osmar Serraglio diz não ter ainda certeza absoluta, mas mesmo assim distribuiu um documento relativo ao ano de 2003. A Visanet depositou R$ 23,3 milhões na conta da DNA no dia 19 de maio de 2003. No dia seguinte, a DNA fez uma aplicação em um fundo de investimento do BB no valor de R$ 23,2 milhões. Três dias depois, em 26 de maio, a outra agência de Valério, a SMP&B, faz um empréstimo de R$ 19 milhões junto ao Banco Rural. Segundo a CPI, um empréstimo nesse mesmo valor consta da relação de Valério como sendo do PT. O relator Osmar Serraglio constata: “A operação relativa ao ano de 2003 tem muita similaridade com o desvio constatado em 2004, mas não há até agora provas.” As investigações vão prosseguir. Serraglio admite propor o indiciamento do chefe do Núcleo de Ações Estratégicas da Presidência, Luiz Gushiken. Além do BB, Serraglio suspeita: “É claro que pode ter outras estatais envolvidas no mesmo esquema de desvio de recursos.”
Tensão tucana – A senadora Ideli Salvatti (PT–SC) não perde tempo e, aproveitando-se da mesma ocorrência referente a 2003, quer que a CPI aprofunde as investigações em relação a 2001 e 2002, os dois últimos anos do governo FHC. Os documentos que mostram pagamento antecipado da Visanet à agência DNA também na era FHC seriam distribuídos à imprensa na coletiva da quinta-feira 3 pelo relator Osmar Serraglio e pelo sub-relator, deputado federal Eduardo Paes (PSDB–RJ). Numa decisão solitária do tucano, esse material acabou não sendo apresentado.
O problema para a tucanada é que a CPI dos Correios dispõe de provas mostrando que, no dia 23 de outubro de 2001, o BB anuncia uma campanha para a Visanet. No dia 26, três dias depois, já tinha sido feito um depósito de pagamento antecipado de R$ 12,8 milhões na conta da agência DNA. “Há quem quer investigar a corrupção e há quem quer investigar apenas o PT”, denuncia a senadora petista Ideli Salvatti, cobrando apuração do desvio dos recursos investidos pelo BB na propaganda da Visanet nos anos de 2001 e 2002. Serraglio concorda: “Se houver suspeitas, a CPI dos Correios vai apurar tudo.” Enquanto a CPI não conclui a investigação, o BB anunciou que não compactua com eventuais desvios e já encaminhou notificação judicial à agência DNA para cobrar os R$ 9,1 milhões, de um total de R$ 35 milhões pagos antecipadamente à agência de Valério em 2004. A notificação foi feita somente no dia 25 de outubro. A guerra promete crescer na CPI.
O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), diz que os empréstimos alegados pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares não se sustentam mais. “Essa coisa de mensalão pode indicar periodicidade, mas não é bem assim. Isso pode ter caminhado ao sabor dos interesses, de mudanças partidárias, de votações importantes.” Enquanto Delcídio avança nas investigações para punir os responsáveis pelos desvios de recursos públicos no escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu continua com sua guerrilha para fugir da cassação. Mesmo contra a vontade do presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), adiou para o dia 23 a votação em plenário da cassação de Dirceu. Izar quer julgar Dirceu na quarta-feira 9. Dirceu ganhou tempo e prepara novas batalhas no Supremo Tribunal Federal, onde acredita conseguir anular o processo e escapar da punição.
Agora, quem parece ter se livrado da cassação é o líder do PL, deputado Sandro Mabel (GO), que foi absolvido por unanimidade no Conselho de Ética. Essa decisão precisa ser confirmada pela Câmara, que costuma ratificar as decisões tomadas por maioria de votos no Conselho. É difícil que Mabel seja cassado, assim como ficou improvável salvar José Dirceu depois de ter perdido a primeira e a segunda votações no Conselho por 13 votos a 1. O próximo a ser degolado é Romeu Queiroz (PTB-MG). Ele deverá ter seu pedido de cassação aprovado pelo Conselho na terça-feira 8.