15/10/2003 - 10:00
Asma Jahangir, funcionária da ONU em visita oficial ao Brasil, está causando indignação entre os membros do Poder Judiciário. Advogada paquistanesa, ela é a relatora especial da Comissão de Direitos Humanos para Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias da Organização das Nações Unidas e veio ao País para verificar a veracidade de denúncias recebidas pela organização de que os assassinatos cometidos por grupos de extermínio aumentaram nos últimos anos. Asma esteve em seis Estados brasileiros, reuniu-se com ministros, representantes da polícia, da Justiça e integrantes de ONGs. Ela também entrevistou testemunhas e parentes de vítimas desses grupos. E, como num roteiro de filme de horror passado em uma republiqueta de bananas, duas delas, Flávio Manoel da Silva e Gerson Jesus Bispo, dias depois de relatar seus dramas à representante da ONU, foram vergonhosa e brutalmente assassinadas. Asma Jahangir, chocada, retornou à sede da ONU, e em seu relatório constará, entre outras recomendações, a de que seja enviado um observador para inspecionar o Poder Judiciário brasileiro, considerado lento no julgamento dos casos de homicídio.
Isso tudo causou muita indignação. Não pelo fato de duas testemunhas terem sido covardemente assassinadas nas condições acima descritas, mas sim pela óbvia recomendação do envio do observador da ONU. Maurício Corrêa, presidente do Supremo Tribunal Federal, disse que
isso é uma intromissão “indébita, inadequada e infeliz” de alguém que
não conhece o funcionamento do Judiciário brasileiro. Já o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, também indignado, mas com as mortes
das duas infelizes testemunhas, lembrou que o Brasil é signatário de tratados internacionais relacionados a direitos humanos e eles implicam esse tipo de acompanhamento.“Não podemos tapar o sol com a peneira, negando que haja tortura e violação dos direitos humanos no Brasil”, afirmou o ministro Dirceu.
Os repórteres de ISTOÉ, Ricardo Miranda e Carlos Magno, viajaram aos Estados de Pernambuco e da Paraíba, movidos, como a enviada da ONU, por denúncias de ações de grupos de extermínio que atuam na região. Os jornalistas tiveram acesso a estarrecedoras gravações de diálogos telefônicos entre integrantes desses grupos enquanto estes cometiam os assassinatos. Carlos Magno foi à cidade pernambucana de Itambé, na divisa com a Paraíba, para fotografar a promotora Rosemary Souto Maior de Almeida e a sra. Nair Maria da Conceição, as duas juradas de morte. Depois de ter feito o trabalho, Magno, com a vida em risco, teve de sair da cidade escoltado por uma viatura da Polícia Militar. Leia nesta edição o resultado do trabalho de nossos repórteres, o que, lamentavelmente, deixará o leitor profundamente indignado.