15/10/2003 - 10:00
Foi uma semana confortável para a economia brasileira. Na terça-feira 7, os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a produção industrial no mês de agosto refletiram os primeiros sinais concretos em direção à retomada econômica. Depois de um primeiro semestre péssimo, a indústria mostrou crescimento de 1,5% em agosto em relação a julho e,
nas palavras do chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, Silvio
Sales, deixou para trás a “recessão técnica” que ele mesmo havia prognosticado durante a divulgação da pesquisa de junho. É pouco,
muito pouco diante do que o País precisa, mas ganhou manchetes pelo fato de a rotina de resultados negativos vir acompanhando o setor industrial desde setembro de 2002.
Outro dado que clareia o horizonte da atividade econômica veio da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). O boletim Indicadores Industriais, divulgado pela CNI também na terça-feira, apontou aumento de 2,89% nas vendas da indústria em agosto, em relação ao mês anterior. É o melhor resultado desde fevereiro. A política monetária mais flexível – leia-se juros mais baixos e redução do IPI para os automóveis –, de acordo com a publicação da CNI, foi fundamental para que as empresas voltassem a respirar. A onda positiva acabou influenciando rapidamente o mercado financeiro. Na quarta-feira 8, o Ibovespa,
índice que mede o volume de negócios na Bolsa de Valores de São
Paulo, fechou em 17.804 pontos, patamar mais alto desde janeiro
de 2001. O volume de negócios de R$ 1,6 bilhão também foi o melhor desde janeiro de 2000. E o enigmático risco-país, que já bateu nos
quatro mil pontos, acabou a quarta-feira em 616, nível mais baixo
desde julho de 1998. Fechando o dia, o c-bond, papel da dívida brasileira negociado no mercado internacional, foi vendido por volta dos 94%
do valor de face – recorde histórico.
A expectativa agora é de que a indústria repita em setembro o resultado de agosto para chegar ao terceiro semestre com taxa positiva de 0,2%. Isso se o consumo reagir e as empresas destravarem seus investimentos. Algumas já superaram o medo do futuro.
• A gaúcha Braspelco acaba de inaugurar em Goiás sua maior e mais moderna fábrica de couro, um investimento de R$ 190 milhões capaz
de gerar 2,8 mil empregos diretos e 5,5 mil indiretos. A unidade, em Itumbiara, funcionará 24 horas por dia, produzindo até dois milhões de peças por ano. A Braspelco é a maior exportadora de couro do Brasil.
A expectativa é que a nova unidade tenha um faturamento anual de
US$ 200 milhões, cerca de 50% do total da empresa, até 2005. A Braspelco produz couros para móveis, calçados, aeronáutica e automóveis. Entre seus principais clientes estão Embraer, GM, Volkswagen e indústrias mo- veleiras da Itália.
• A indústria ferroviária prevê vender 14 mil vagões até 2006. O presidente da Iochspe Maxion, Dan Ioschpe, acaba de fechar contrato de arrendamento de dois dos quatro fornos de fundição da antiga Cobrasma, em Osasco, bem como de um galpão de 12 mil m2, também pertencente à Cobrasma, localizado em Hortolândia, em São Paulo. Com o contrato, a Amsted Maxion, fábrica de vagões da qual a Iochspe Maxion participa, poderá mais que dobrar sua capacidade de fabricação de vagões, das atuais duas mil unidades/ano para cinco mil unidades. A notícia significa a reativação de metade da Cobrasma, uma das maiores do mundo, construída na época do “milagre” e fechada há dez anos.
• O banco HSBC acaba de anunciar a compra da maioria dos ativos do Lloyds TSB Brasil, por US$ 815 milhões, para expandir sua participação
na América do Sul. Nessa aquisição entram a financeira Losango – considerada o ativo mais valioso dos negócios no Brasil – e as operações de títulos brasileiros do Lloyds, que serão incorporados à financeira Household International. “A compra vai nos permitir desenvolver o setor de crédito pessoal no Brasil aplicando as técnicas do modelo da Household”, disse Michael Geoghegan, presidente do HSBC no Brasil.
O sétimo maior banco privado do País aposta no crédito pessoal para ampliar sua atuação no mercado brasileiro. O Lloyds é o quinto maior banco do Reino Unido.
• Com incentivo do BNDES, a indústria de cerâmica se prepara para ampliar negócios de exportação. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de revestimentos cerâmicos. A produção de 508,3 milhões de metros quadrados atende, anualmente, a mais de 110 países. Os ceramistas terão prioridade na política de modernização das cadeias produtivas, junto com outros 18 setores da economia. O dinheiro será investido no pólo industrial de Santa Gertrudes, o maior das Américas, com 36 cerâmicas instaladas na região paulista de Santa Gertrudes, Rio Claro, Limeira e Cordeirópolis. O pólo produziu em 2002 198 milhões de metros quadrados, ou 39% de toda a produção brasileira. As exportações cresceram 56,75%, em rela- ção a 2001.
• A japonesa Sharp, ausente do mercado brasileiro há mais de cinco anos, está voltando. Depois da falência do grupo Machline, que tinha os direitos da marca no Brasil, os japoneses escolheram a Plasma Power Corporation como representante de seus produtos. Até o final do mês chegam televisores com tela de cristal líquido, purificadores de ar e amplificadores digitais. O investimento será de R$ 4 milhões. A Sharp tem 80% do mercado de televisores com tela de cristal líquido nos EUA. A expectativa é vender 210 mil aparelhos de tevê em três anos no País.
• A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do grupo Votorantim, deve concluir até o final do mês a ampliação de sua capacidade de produção de 240 mil toneladas para 340 mil toneladas na unidade localizada em Alumínio, interior de São Paulo. A CBA, presidida por Antônio Ermínio de Moraes, investe US$ 370 milhões na empreitada e já se prepara para desembolsar mais US$ 300 milhões até 2006 para acrescentar 45 mil toneladas anuais à produção de alumínio e construir três hidrelétricas. Os investimentos vão garantir faturamento anual de US$ 3 bilhões e a manutenção de um crescimento de 9% ao ano.
• A suíça Nestlé anuncia que vai tornar o Brasil uma das bases de exportação de café solúvel com a fábrica que será implantada em
Araras, no interior de São Paulo. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou empréstimo de R$ 57 milhões
para o projeto que receberá um total de R$ 121,5 milhões. A nova
fábrica terá capacidade de produção de 16,5 mil toneladas/ano e aumentará em 72% a capacidade da unidade. A Nestlé exporta 68%
da produção de café solúvel.
• A francesa Alcatel retomou a produção de equipamentos no Brasil, com a fabricação terceirizada de sistemas de acesso à internet para a empresa americana Jabil. O investimento inicial será de US$ 700 mil para produzir, por ano, equipamentos que atendam a até 700 mil linhas telefônicas digitais. A Alcatel interrompeu a fabricação no País em 2001, quando deixou de produzir equipamentos para comutação.