Se um dia seu médico recomendar um cafezinho – junto com outras orientações – para acabar com alguma queixa, não estranhe. Há um número cada vez maior de cientistas investigando as propriedades da bebida. Diversos estudos sugerem que substâncias presentes na planta Coffea arabica trazem benefícios para a memória, o estado de ânimo e até para a beleza. Uma pesquisa do Instituto Australiano de Esporte, apresentada recentemente, revelou que uma xícara de café antes da atividade física pode ajudar a queimar mais calorias durante a prática de exercícios. Como ela facilita o emagrecimento? A cafeína, um dos compostos da planta, é um estimulante e pode aumentar a duração dos treinos. A substância deflagraria um processo no qual os músculos passam a utilizar a gordura como fonte de energia, e não os carboidratos.

Descobertas como essas fazem a alegria do clínico geral Darcy Roberto Lima, professor de história da medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde 1984 ele desenvolve estudos sobre a bebida. “Qualquer fruta, ao ser cozida, perde vitaminas. O café, mesmo torrado, conserva suas propriedades. Mas ele só faz bem para quem é saudável”, diz. Lima acompanha pesquisas de várias partes do mundo. O médico é integrante do Instituto do Café da Universidade Vanderbilt (EUA), dedicado a descobrir meios de transformar substâncias extraídas da planta em medicamentos. Há cerca de 1.000 compostos no café, mas os mais importantes são a cafeína, a niacina (vitamina B3), os ácidos clorogênicos e os sais minerais potássio, ferro e manganês. “Há mais minerais no café do que em qualquer bebida isotônica”, completa Lima.

A cafeína é a principal responsável pelo
estado de alerta. Ela bloqueia a adenosina,
um neurotransmissor associado ao sono. Segundo Lima, pilotos de avião têm o hábito
de ingerir cápsulas de cafeína. Ao melhorar a atenção, a bebida também favorece a concentração, a aprendizagem e a memória. Atualmente, a cafeína é empregada também
na formulação de remédios que aliviam a dor
de cabeça. Mas os especialistas estão de olho não só na cafeína, como também nos outros compostos, caso dos ácidos clorogênicos,
que, dependendo do ponto da torra, formam outras substiancias, os quinídeos.

Os ácidos clorogênicos são antioxidantes – combatem os radicais livres, substâncias que levam ao envelhecimento celular. Talvez por essa razão exista uma relação entre o consumo de café e a menor incidência de câncer de cólon, associação apontada em alguns trabalhos internacionais. “Os radicais livres agridem o DNA. E o DNA modificado passa a produzir células anormais”, explica Hélio Vannuchi, professor de nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, SP. Não se sabe por que o efeito protetor se dá apenas sobre o intestino grosso. Por isso, são necessários mais estudos para compreender – e confirmar – esse papel.

Em relação aos quinídeos, há mais um efeito a ser avaliado. Eles seriam capazes de bloquear o mecanismo da autogratificação do organismo,
que pode levar, por exemplo, ao alcoolismo e ao uso de drogas. Também ajudariam a combater a depressão. “Estudos epidemiológicos mostram
que quem consome quatro xícaras diárias de café tem menor incidência de depressão, alcoolismo e cirrose”, assegura Lima. Por tudo isso, ele acredita que em alguns anos poderemos ter o café funcional, uma
bebida com aplicação prática na saúde.

Quatro xícaras ao dia é a medida ideal. O abuso
pode potencializar problemas, como males gástricos. Segundo o ortopedista Marcos Sauberman, do
Rio de Janeiro, suspeita-se ainda que o excesso
de café iniba a absorção de ferro e cálcio. Se o organismo não metaboliza esses elementos, a possível consequência é a osteoporose (enfraquecimento da massa óssea). “Instalada a doença, oriento o controle
do consumo”, conta.

Se para os ossos o café pode dar algum problema, o mesmo não acontece com a pele. A cafeína é uma das armas da indústria da beleza para vencer a famigerada celulite, provocada pela retenção de líquido e pelo acúmulo de gordura e toxinas nas pernas e no bumbum. Ela enriquece produtos de marcas famosas. “A substância impede o depósito de açúcar nas células, facilitando a circulação”, afirma o cirurgião plástico Ricardo Cavalcanti, diretor da clínica Vitée, no Rio, onde em setembro foi apresentado o creme Crono-Activo, da Elancyl. Outro produto é o Phyto-Sculptural, da Sisley, que ajuda também a reduzir o tamanho e a incidência das células de gordura. O segredo seria a concentração da cafeína. Isso ocorre também no gel Minceline Plus, da Anna Pegova. “Antes, os produtos continham de 3% a 4%. Chegamos a 10%”, diz Maya Maalouf, representante da marca no Brasil.