28/02/2007 - 10:00
Se levarmos em conta o que se afirma a respeito de seu QI, avaliado entre 180 e 220, o italiano Leonardo da Vinci (1452-1519) figura bem acima da grande maioria dos mortais – na melhor das hipóteses, uma pessoa normal não apresenta quociente de inteligência acima de 120. Isso talvez explique a abrangência de suas habilidades: em 67 anos de vida, Da Vinci distinguiu-se como filósofo, pintor, engenheiro, arquiteto, anatomista, cientista, inventor e estrategista. Ele era um observador incansável da natureza e valeu-se de seus princípios em suas criações. Entre elas, o avião, a bicicleta, o helicóptero, o submarino, o automóvel, a metralhadora, a catapulta e o canhão. Como pintor, foi um dos maiores. Sua Mona Lisa, que se encontra no Museu do Louvre, em Paris, é o quadro mais conhecido e visitado do mundo. Já o afresco A última ceia, pintado no mosteiro Santa Maria delle Grazie, em Milão, carrega o título de “o mais reproduzido”. É com pretensões de decodificar esse rico universo que a mostra Leonardo da Vinci – a exibição de um gênio, com 150 peças inspiradas em seu legado, chega a São Paulo na Oca do Parque Ibirapuera, a partir de 1º de março.
Organizada pela RYP Australia Major Projects e a Anthropos Foundation, especializadas em projetos culturais de grande porte, a exposição já passou pela Itália e Rússia. Segundo Bruce Peterson, da RYP e curador juntamente com Modesto Veccia, da Anthropos, a versão brasileira é a maior de todas. Na Itália, por exemplo, devido às dimensões do museu, foi exibida apenas a metade dos itens que estão vindo para cá. Por serem muito raros, o que eleva não apenas o preço do seguro, mas também a lista de restrições à exibição pública, não serão mostrados rascunhos nem pinturas originais. Mas o visitante poderá ver máquinas construídas por autênticos artesãos italianos. São 75 ao todo, 25 delas interativas, cobrindo temas como vôo, guerra, hidráulica, aquática, engenharia civil, princípios da mecânica e instrumentos musicais, ópticos e de tempo.
ANATOMIA O corpo humano aparece em 40 desenhos
feitos a partir de dissecações de cadáveres
As maquetes e peças em tamanhos originais foram construídas utilizando-se, na medida do possível, os materiais e as técnicas existentes na Itália do século XV, período de grandes mudanças culturais na história da humanidade, conhecido como Renascimento. “Os artesãos interpretaram os escritos e os desenhos de Da Vinci e construíram máquinas fiéis aos seus projetos, como se ele mesmo as tivesse construído”, diz Peterson. Entre os 13 segmentos da mostra incluem-se 40 desenhos anatômicos (ampliados para facilitar a visão, já que os originais eram muito pequenos) e 14 estudos preparatórios para o grande afresco Batalha de Anghiani. Podem ser vistos também os chamados Códices, conjuntos de manuscritos e desenhos com teorias, notas, projetos e assuntos superpostos de forma livre – além do intitulado Leicester (pertencente à Bill Gates, que pagou US$ 3 milhões por ele), foram reproduzidos os de Madrid e de Forster, descobertos em 1966 na capital espanhola. Somam-se a isso as reproduções de dez famosos quadros de Leonardo da Vinci, pintados por artistas florentinos em seus tamanhos originais, e projeções em 3D de dois quadros clássicos: Última ceia (revelando como o afresco foi criado) e Homem Vitruviano (evidenciando o estudo da proporção áurea).
Segundo Peterson, a idéia foi a de criar uma mostra popular que reunisse o entretenimento e a diversão de forma interativa e didática. “Os museus estão enfrentando uma morte lenta porque as pessoas querem se envolver e não apenas olhar as obras, separadas delas por cordas ou vidros”, diz ele. Uma das partes mais curiosas da exposição centra-se sobre o alfabeto utilizado pelo genial mestre italiano, que escrevia ao contrário, da direita para a esquerda. Segundo o escritor Dan Brown, autor de O código Da Vinci, ele agia dessa forma porque era um iniciado. Petersen desmistifica a tese. Diz que Leonardo da Vinci escrevia assim porque era canhoto e não queria borrar os textos que criava febrilmente. Além disso, por ter sido preso na juventude sob a acusação de homossexualidade, tornou-se desconfiado de tudo e de todos – e para proteger-se de possíveis inimigos inseriu intencionalmente diversos erros e omissões em seus projetos de invenções, criando uma espécie de “patente”. Hoje em dia quem lidar com esses textos tem de ser já bem familiarizado com os trabalhos de Da Vinci, porque só assim chegará a um quadro completo de suas invenções. Coisa que os italianos tiram de letra.
BICICLETA Um dos projetos de Da Vinci