15/10/2003 - 10:00
Polaróides de um filme nostálgico, as histórias de Mario Lorenzi – natural de Bordighera, Ligúria, noroeste da Itália – muitas vezes flagram situações fellinianas. Assim, um desfile de mulheres casadas fugindo furtivas de quartos de hotéis ou histórias escabrosas sobre perseguidos políticos, invariavelmente de esquerda, fazem de Uma rosa para Púchkin (Códex, 192 págs., R$ 26) um inventário sentimental. Depois de deixar seu país no auge dos 24 anos, Lorenzi, que hoje tem 77, radicou-se em São Paulo, enquanto definia passagens prolongadas por Paris, Buenos Aires e Cidade do México, escrevendo livros técnicos, voltados para a atividade empresarial. Reunidos na Itália pela primeira vez em 2001, sob o título La persisteza della memoria, seus contos receberam na edição nacional o acréscimo de textos produzidos para revistas brasileiras. Todos conservam uma forte carga humanista, descrevendo um mundo pré-internet de sentimentos reais.
Em Amigo é pra essas coisas, por exemplo, o narrador depara com uma carta de um companheiro já falecido, deixada aos cuidados de um desconhecido. Nela, o amigo conta que possuiu todas as namoradas do filho, menos aquela com quem ele se casou. É de chorar. Em tempo, o poeta russo Aleksandr Púchkin entra quase por acaso na história. O protagonista do conto que nomeia o livro promete fazer uma oferenda a pedido de uma simpática advogada russa de olhos azuis amendoados, mãos firmes e pernas longas. Como não se dirigiu diretamente para São Petersburgo, onde o poeta está enterrado, foi distribuindo rosas pelos túmulos que encontrou em Moscou – Tchekhov, Gogol, Turgueniev, qualquer escritor que aparecia. Tudo pela advogada. Ah, esses italianos.