15/10/2003 - 10:00
A autobiografia da ex-primeira dama americana Hillary Clinton não pára de provocar barulho. Ao ser lançada nos Estados Unidos, em junho passado, ecoou pelos quatro cantos do mundo. À época, o foco centrou-se nas iradas reações da hoje senadora por Nova York sobre a “intimidade não apropriada” entre seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, e a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinski. Dois meses depois, o lançamento na China mostrou as garras da censura que ainda impera naquele país. Trechos inteiros, nos quais Hillary discorria sobre desrespeitos locais aos Direitos Humanos, foram suprimidos. Como se não bastasse, pelo menos seis diferentes edições piratas surgiram no mercado chinês. No Brasil, Vivendo a história (Editora Globo, 592 págs., R$ 49) também está causando controvérsias. Mas os problemas da versão nacional estão na tradução, a começar por transformar em patente militar o nome do americano Sargent Shriver, sogro de Arnold Schwarzenegger, que se candidatou a vice-presidente de George McGovern em 1972. Quem não quiser se arriscar no original em inglês deve esperar pela segunda edição, que está para sair. Nela, a editora promete rever as falhas da tradução.
Vivendo a história é um livro sobre poder e política. Embora Hillary comece com uma narrativa intimista da infância num subúrbio de Chicago, seu esforço literário é dirigido para os oito anos na Casa Branca. Ela apreciou tanto a experiência que pretende voltar – como presidente. A prova é que preparou uma autobiografia totalmente adequada à potencial candidatura. Algumas passagens, no entanto, parecem francas e realmente curiosas. Uma delas conta os bastidores do histórico encontro entre o israelense Yitzhak Rabin (1922-1996) e o palestino Yasser Arafat, mediado por Bill Clinton em 1993, na Casa Branca. “Antes da cerimônia, Bill e Yitzhak se envolveram num hilariante ensaio do aperto de mãos, com Bill fingindo ser Arafat, enquanto praticavam uma manobra complicada que impedisse o líder palestino de chegar muito perto”, revela Hillary. Avesso a algumas tradições árabes, Rabin queria evitar que Arafat lascasse um beijo em seu rosto.