15/10/2003 - 10:00
Em seu 12º longa-metragem, Rua Seis sem número (Brasil, 2002) – em cartaz em São Paulo –, o cineasta e escritor mineiro João Batista de Andrade resolveu aproximar-se da tecnologia digital para contar mais uma história de sua autoria passada em Brasília, como havia feito em O cego que gritava luz, de 1995. Aparentado com a temática urbana adotada pelo chamado cinema da retomada, Rua Seis sem número conduz o público por uma odisséia de horror em meio ao caos social reinante na região do Entorno do Distrito Federal. O protagonista Solano (Marco Ricca) é um jornalista desempregado e anacrônico que precisa sustentar a mulher, Lenira (Luciana Braga), novamente grávida. Ao mesmo tempo que se recusa a substituir a velha máquina de escrever por um computador, o que traria seu emprego de volta, Solano vê a oportunidade de ganhar um dinheiro fácil. Depois de presenciar um garoto esfaqueando um velho chamado Dimas (Umberto Magnani), este lhe pede que entregue uma quantia substancial de dinheiro a uma certa Maíra (Christine Fernandes), que “mora na Rua Seis”. Tarefa inglória, considerando-se que Brasília e as cidades satélites são numeradas por quadras, cada uma com sua própria numeração.
No entanto, em vez de ficar com o dinheiro, Solano insiste na busca. Antes de tudo um burguês, ele passeia embevecido entre políticos corruptos em campanha, como o senador Isidoro (Paulo Gracindo), policiais, drogados, prostitutas e é tomado por delírios que formam uma história paralela. A linguagem dominada pela tecnologia de ponta permite ousadias com cenas improvisadas, filmadas no meio do povão, sem as pessoas saberem que se trata de um filme. Mas a mistura das duas histórias acaba ficando morosa e confusa. Talvez porque João Batista de Andrade continue pensando de forma analógica.