15/10/2003 - 10:00
Não existe um espelho que não sucumba aos encantos dos dentes, sempre brancos e brilhantes, de Miles Massey, papel de George Clooney em O amor custa caro (Intorerable cruelty, Estados Unidos, 2003), que tem estréia nacional na sexta-feira 17. A fixação pelo sorriso de propaganda de dentifrício não é única na vida deste advogado narcisista, egoísta e muito competente nas suas falcatruas. Considerado o terror dos cônjuges que ousam querer tirar dinheiro da outra parte, em caso de separação, Massey não admite perder uma causa. Por conta das suas vitórias, quase invariavelmente sobre uma pilha de mentiras, ele acumulou fortuna e respeito mítico entre seus pares. Massey só não contava com a aparição de uma escroque do mesmo nível. Ela é Marylin Rexroth, interpretada pela exuberante Catherine Zeta-Jones, agora mais linda e insinuante do que nunca.
Marylin armou uma cilada pesada para o marido milionário com a intenção de lhe tirar toda a fortuna. Mesmo assim, ela perdeu a causa. Motivo: Miles Massey era o advogado do ex. Daí para a frente, o filme do diretor Joel Coen – que, com o irmão Ethan, forma uma dupla imbatível no gênero comédia-inteligente-bizarra – é uma sucessão de acontecimentos divertidos para casados e solteiros, ricos ou não. Coen arma com perspicácia e muito humor casos que todo mundo conhece ou ouviu falar, principalmente num país como os Estados Unidos, onde casamentos milionários são sacramentados e demolidos com a mesma rapidez de
uma lua-de-mel. Para cruzar histórias, sobrepor trapaças e engordar situações nonsense, Coen recorre à linguagem do desenho animado,
às comédias inocentes. Mas nada no seu filme é inocente. Nenhum personagem é santo. Todos querem se dar bem, e esta busca pelo dinheiro joga as pessoas em situações hilariantes, como o detalhismo
da cena em que o Baron Krauss von Espy (Jonathan Hadary), afetadíssimo, adentra o tribunal segurando um cachorrinho branco
para testemunhar contra Marylin.
Há oito anos, Joel Coen, roteirista e diretor, e Ethan Coen, roteirista e produtor, queriam levar às telas a batalha dos sexos de O amor custa caro. Como o tema nunca envelhece, depende apenas do toque inteligente que se dá a ele, a dupla resolveu retomar o projeto, desta vez com George Clooney como protagonista. Galã quarentão, Clooney está perfeito no papel. Acrescenta a dose exata de canastrice e com Catherine em cena faz um coquetel molotov de sensualidade. A rivalidade entre eles é cool. Massey e Marylin se amam e se odeiam. Ela, com golpes de mestre da mesma estatura de seu oponente, derruba toda a prepotência do machão. Ele, esfolado pela estratégia da inimiga, se fragiliza para depois se fortalecer. O jogo é muito divertido.